Cancro da próstata: efeitos terapêuticos da curcumina e do alho

Nos últimos anos, a ciência tem investigado a ação de vários alimentos e nutrientes no cancro da próstata, o tipo mais frequente no homem em Portugal. Um dos aspetos que tem vindo a ser estudado é o efeito de algumas substâncias presentes em alimentos de origem vegetal (fitoquímicos) no prognóstico, como adjuvantes dos tratamentos convencionais. De entre os vários alimentos ou produtos alimentares estudados destacam-se a curcumina e o alho.

Cancro da próstata: efeitos terapêuticos da curcumina

A curcuma é uma raiz vulgarmente conhecida como açafrão-da-índia, açafrão-da-terra ou gengibre-amarelo. A cor alaranjada deve-se à presença de compostos fenólicos denominados curcuminóides, sendo a curcumina o principal (75%). Como tal, é considerada o composto ativo da curcuma.

Além do efeito preventivo no cancro da próstata, a ciência tem referido o potencial terapêutico que a curcumina tem na doença. Mais especificamente, vários trabalhos têm evidenciado que este composto pode inibir a iniciação, a progressão e a formação de metástases, tanto em células sensíveis ao androgénio, como independentes à hormona.

A curcumina parece inibir a progressão do cancro da próstata, através do aumento da apoptose e da inibição da angiogénese, afetando a progressão da doença. Além disso, este composto é capaz de afetar os recetores tumorais de androgénio (expressão e atividade) e outros elementos (fatores de transcrição, de crescimento e inflamatórios, proteínas quinases e outras moléculas oncogénicas), contribuindo para atrasar o crescimento do tumor.

curcumina e alhoO papel na prevenção das metástases de cancro da próstata assenta em vários mecanismos diferentes. A curcumina parece prevenir as metástases ósseas, pois favorece a expressão da BMP-7, o que resulta no estímulo de fatores importantes na inibição da metastização nos ossos. Outros mecanismos envolvidos na prevenção de metástases incluem: supressão dos fibroblastos associados ao cancro, regulação negativa de citocinas inflamatórias e inibição da secreção de metaloproteinases da matriz.

Além do referido, a curcumina, quando combinada com as isoflavonas, parece diminuir a produção de antigénio específico da próstata (PSA).

Apesar dos vários estudos laboratoriais realizados, é importante ter em conta que é necessário o desenvolvimento de ensaios clínicos que possam confirmar estes resultados em doentes com cancro da próstata.

Cancro da próstata: efeitos terapêuticos do alho

Estudos epidemiológicos sugerem que uma elevada ingestão de alho (mínimo de 10 g/dia) previne o aparecimento de cancro da próstata. Esta ação protetora deve-se à presença de alicina, alixina, dialil sulfito, dialil disulfito, dialil trisulfito e outros compostos bioativos.

Além do efeito na diminuição do risco de desenvolvimento da doença, experiências com linhas celulares e com animais mostraram que o dialil trisulfito presente no alho é capaz de suprimir o crescimento do tumor e de aumentar a sobrevivência, através de um vasto número de mecanismos bioquímicos, os quais favorecem a destruição das células cancerígenas. Estes mecanismos incluem o impedimento do crescimento das células cancerígenas, danos no ADN das mesmas, perturbações na expressão das proteínas necessárias ao funcionamento destas células e indução da apoptose.

Os ensaios clínicos realizados são poucos e existe alguma inconsistência nos resultados. Todavia, o alho é reconhecido como um dos vegetais com potenciais propriedades anticancerígenas.

Referências: Dorai, T et al. Therapeutic potential of curcumin in prostate cancer—IV: Interference with the osteomimetic properties of hormone refractory C4-2B prostate cancer cells. Prostate 2004, 60, 1–17;  Janane, D et al. Curcumin Inhibits Protate Cancer Bone Metastasis by Up-Regulating Bone Morphogenic Protein-7 in Vivo. J. Cancer Ther 2014, 5, 369–386; Yang, J et al. Effect of curcumin on Bcl-2 and Bax expression in nude mice prostate cancer. Int. J. Clin. Exp. Pathol. 2015, 8, 9272–9278; Yang, J et al. Curcumin inhibits the survival and metastasis of prostate cancer cells via the Notch-1 signaling pathway. APMIS 2017, 125, 134–140; Hong, J.H et al. The effects of curcumin on the invasiveness of prostate cancer in vitro and in vivo. Prostate Cancer Prostatic Dis. 2006, 9, 147–152; Mukhopadhyay, A et al. Curcumin-induced suppression of cell proliferation correlates with down-regulation of cyclin D1 expression and CDK4-mediated retinoblastoma protein phosphorylation. Oncogene 2002, 21, 8852–8861; Hsing, A.W. et al. Allium vegetables and risk of prostate cancer: A population-based study. J. Natl. Cancer Inst. 2002, 94, 1648–1651; Xiao, D et al. Diallyl trisulfide suppresses growth of PC-3 human prostate cancer xenograft in vivo in association with Bax and Bak induction. Clin. Cancer Res. 2006, 12, 6836–6843; Xiao, D. & Singh, S.V. Diallyl trisulfide, a constituent of processed garlic, inactivates Akt to trigger mitochondrial translocation of BAD and caspase-mediated apoptosis in human prostate cancer cells. Carcinogenesis 2006, 27, 533–540; Kim, S.H. et al. Garlic constituent diallyl trisulfide suppresses X-linked inhibitor of apoptosis protein in prostate cancer cells in culture and in vivo. Cancer Prev. Res. 2011, 4, 897–906. Fontes de imagens: https://www.hopkinsmedicine.org/healthlibrary/conditions/adult/prostate_health/prostate_cancer_22,ProstateCancer; https://seasonsmedical.com/news/watchful-waiting-becoming-more-common-for-prostate-cancer-patients/

Dina Raquel João é Nutricionista e Mestre em Nutrição Clínica, membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas (nº 0204N), com o Título de Especialista para a área de Terapia a Reabilitação da Classificação Nacional de Áreas de Educação e Formação, subárea da Nutrição, tendo desenvolvido a sua atividade profissional principalmente na prática clínica, na docência e formação e na investigação. Como Nutricionista, iniciou atividade clínica em 2001, tendo exercido a nível hospitalar, em centro de saúde e em clínica privada. A experiência profissional na área da investigação decorreu, essencialmente, na área oncológica, tendo sido premiada nesse campo (1º Prémio de Nutrição Clínica da Fresenius Kabi, em 2002). Conta com diversas comunicações científicas orais e em painel, tanto em eventos nacionais como internacionais. Atualmente, é Professora Adjunta Convidada na Universidade do Algarve – Escola Superior de Saúde, lecionando à licenciatura em Dietética e Nutrição.