Melanoma: influência da alimentação na sobrevivência
Nos melanomas superiores a 1mm de espessura, a mortalidade a 10 anos é de 30-60%, após a cirurgia. Por isso, a adoção de estilos de vida que permitam a redução do risco de recorrência, além da diminuição da exposição aos raios ultravioletas, é importante. Outros dados respeitantes à associação entre outros comportamentos modificáveis e a sobrevivência por melanoma são escassos.
Um estudo de Rothberg e colaboradores abordou o impacto do Índice de Massa Corporal (IMC) e das preferências alimentares, entre outros parâmetros, na sobrevivência de doentes com melanoma em fase avançada. Este trabalho concluíu que a sobrevivência era menor em doentes que consumiam carne vermelha pelo menos 1 vez por semana, na altura do diagnóstico.
Carne vermelha
Dados anteriores mostraram que o consumo deste tipo de carne é prognóstico para o cancro colo-retal, verificando-se que ingestões mais elevadas, antes e após o diagnóstico, estão associadas ao aumento da mortalidade pela doença. Neste caso, os mecanismos envolvidos incluíam a exposição direta da mucosa colo-retal aos ácidos gordos ou ferro hemínico e nos danos provocados pelos hidrocarbonetos aromáticos policíclicos e pelas aminas heterocíclicas originados pelo processamento e pela confeção culinária. O consumo de carnes vermelhas extensivamente grelhadas, mas não mal passadas, também foi associado a um risco aumentado de cancro da próstata agressivo, suportando a relevância das exposições a carne vermelha para órgãos não pertencentes ao trato gastrintestinal.
Melanoma e a fruta
Além da carne vermelha, Rothberg e colaboradores estudaram a influência do consumo de fruta na sobrevivência por melanoma. De acordo com trabalhos realizados anteriormente, a ingestão de 5 ou mais peças de fruta por dia parece reduzir o risco de diversas doenças crónicas, incluindo cardiovasculares, cancro, demência, osteoporose e artrite reumatóide. No entanto, os conhecimentos do impacto do consumo de fruta na sobrevivência na doença oncológica são ainda poucos.
Os autores concluíram que o consumo diário de fruta tem um impacto positivo na sobrevivência por melanoma, embora não tenham considerado a quantidade de fruta ingerida, o que pode fazer a diferença.
No estudo US-based Multi-Ethnic Cohort, foi observada uma associação estatística significativa entre a sobrevivência global de mulheres com vários tipos de cancro e o aumento do consumo de fruta. No entanto, nenhuma relação foi verificada no mesmo trabalho mas considerando apenas os homens com cancro participantes. No estudo European Prospective Investigation into Cancer and Nutrition, também não foi constatada nenhuma associação em ambos os géneros.
Todavia, ambos os estudos consideraram os hábitos de consumo de fruta dos doentes antes do diagnóstico de cancro e não na altura de diagnóstico, como no caso dos autores do estudo com doentes com melanoma. Além disso e uma vez que a repartição pelos tipos de cancro não foi efetuada em nenhum desses trabalhos, a sobrevivência por melanoma não pôde ser avaliada.
Outros parâmetros relacionados com o melanoma
Quanto ao IMC, os autores confirmaram os resultados de outros estudos, ou seja, verificaram a não existência de qualquer associação entre este índice e a sobrevivência por melanoma. Do mesmo modo, não se constatou uma associação com o consumo de saladas verdes e de peixe.
Assim, parece existir uma associação entre o consumo de carne vermelha e de fruta e a sobrevivência específica por melanoma, em doentes com melanoma com mais de 1mm de espessura. É um grupo onde a recorrência após a cirurgia é comum, apesar de a vigilância ser norma. Todavia, é importante referir que Rothberg e os seus colaboradores apenas avaliaram os hábitos de consumo ao diagnóstico da doença. Muitas vezes, após o diagnóstico, muitos doentes alteram os seus hábitos alimentares, o que não foi considerado no estudo em questão. Assim, apesar de ter sido avaliada a sobrevivência, os resultados do impacto das variáveis alimentares necessitam de maior investigação, dado que não foram consideradas eventuais alterações dos hábitos alimentares após o diagnóstico.