Sumos de fruta e vegetais: são benéficos no cancro?

Muitos são os doentes oncológicos que consomem elevadas quantidades de sumos de fruta e misturas de vegetais. Todavia, serão benéficos no cancro?

Estas bebidas podem ser uma boa forma de variar nos frutos e vegetais consumidos, adicionando fitoquímicos à dieta. Todavia, o American Institute for Cancer Research desaconselha uma alimentação baseada em sumos durante e após os tratamentos oncológicos, pois está associada a défices nutricionais e a uma redução significativa da ingestão de fibra.

sumos-de-frutaAlém disso, de acordo com a preparação de um alimento, o organismo absorve diferentes nutrientes e quantidades diferentes do mesmo nutriente. Por exemplo, o que organismo absorve de uma cenoura cozinhada é diferente do que absorve de uma consumida crua e diferente de uma reduzida a sumo. Deste modo, uma alimentação baseada em sumos de fruta e vegetais não permite obter a variedade de uma alimentação saudável.

Os doentes oncológicos devem optar por uma dieta que contenha proteínas e calorias suficientes para garantir um adequado estado nutricional, à qual podem ser adicionados sumos de fruta e vegetais mas que não devem ser tidos em conta como substitutos de refeição ou elemento principal da mesma. Neste sentido, o Oncology Nutrition Dietetic Practice Group da Academy of Nutrition and Dietetics dos Estados Unidos da América recomenda que as primeiras 5 porções de fruta e vegetais ingeridas diariamente devem ser consumidas na forma inteira do alimento, podendo as restantes ser sob a forma de sumos. No entanto, se o doente não atinge, pelo menos, as 5 porções, então deverá atingir esse valor e só depois optar por sumos. O alimento primeiro!

Preparação de sumos de fruta e vegetais

Para a preparação de sumos mais saudáveis, deverão ser incluídos mais vegetais que frutos. Uma fruta basta para adoçar a bebida, sendo os outros ingredientes vegetais hortícolas, o que tornará a bebida menos calórica. Para tirar o maior benefício possível da ingestão, deverá primar-se pela variedade de ingredientes e misturas, podendo até ser usadas partes do alimento que, normalmente, seriam rejeitadas (talos, por exemplo).

Um sumo pode conter muitas calorias, considerando que um fruto/vegetal inteiro tem um volume maior do que quando reduzido à forma líquida. Ou seja, para ser atingindo um determinado volume de líquido são necessárias, por vezes, mais porções que aquelas que seriam ingeridas se o alimento estivesse inteiro. Assim, uma boa maneira de evitar a ingestão excessiva  de calorias, o que pode contribuir para o aumento de peso, é pensar na quantidade do fruto/vegetal na forma natural que seria ingerida.

Incluir crucíferas na alimentação tem vindo a ser associado a uma diminuição do risco de diversos tipos de cancro e a uma diminuição da progressão da doença, sem que haja efeitos adversos. Assim, os bróculos, a couve-galega, lombardo, repolho, rábano, couves de Bruxelas, couve-flor, agrião de água, nabos, rabanete, entre outros, poderão ser boas opções, apesar dos estudos ainda serem insuficientes para que seja reconhecida evidência científica.

Acrescentar proteína e um pouco de gordura à bebida também pode ser um bom contributo para atingir as necessidades nutricionais. Assim, por exemplo, poderá ser acrescentado iogurte e algumas sementes ou frutos secos como topping (como uma cobertura) ou tomá-lo com ovos mexidos ou cozidos.

Situações específicas

No caso de doentes com dificuldade em mastigar e/ou deglutir, bem como noutras situações específicas, a redução de fruta e/ou vegetais à forma líquida pode ser uma boa opção para obter vitaminas, minerais e fitoquímicos, consumindo-os sob a forma de smoothies. Todavia, é importante o acompanhamento por um nutricionista que oriente o doente e o cuidador, para assegurar a ingestão das necessidades energéticas e proteicas e modular os sintomas que pode apresentar e que têm impacto no estado nutricional.

Referências:  American Institute for Cancer Research, LIVESTRONG Foundation & Savor Health. HEAL Well: A Cancer Nutrition Guide. Disponível em www.aicr.org/assets/docs/pdf/education/heal-well-guide.pdf. Acedido a 12/11/2016; https://www.oncologynutrition.org. Acedido a 12/11/2016. Fontes de imagens: https://www.noticiasaominuto.com/mundo/535601/tinha-duas-semanas-de-vida-resistiu-ao-cancro-a-base-de-sumos; http://www.juicingcure.com/juicing-is-beneficial-for-healthy-living.
 

Dina Raquel João é Nutricionista e Mestre em Nutrição Clínica, membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas (nº 0204N), com o Título de Especialista para a área de Terapia a Reabilitação da Classificação Nacional de Áreas de Educação e Formação, subárea da Nutrição, tendo desenvolvido a sua atividade profissional principalmente na prática clínica, na docência e formação e na investigação. Como Nutricionista, iniciou atividade clínica em 2001, tendo exercido a nível hospitalar, em centro de saúde e em clínica privada. A experiência profissional na área da investigação decorreu, essencialmente, na área oncológica, tendo sido premiada nesse campo (1º Prémio de Nutrição Clínica da Fresenius Kabi, em 2002). Conta com diversas comunicações científicas orais e em painel, tanto em eventos nacionais como internacionais. Atualmente, é Professora Adjunta Convidada na Universidade do Algarve – Escola Superior de Saúde, lecionando à licenciatura em Dietética e Nutrição.