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O resveratrol é um antioxidante que pode ser encontrado, principalmente, nas uvas (0,05-0,1 mg/g), nas grainhas das uvas, nos amendoins, nas bagas e noutras fontes vegetais. Uma das mais ricas fontes de resveratrol é a erva Polygenum cuspidatum, sendo o extrato da sua raiz utilizado nas medicinas tradicionais chinesa e japonesa.

Este antioxidante está relacionado com a prevenção do cancro e, nos últimos anos, vários estudos sugerem que o resveratrol pode ajudar no tratamento oncológico em humanos, dado atuar em vários pontos-chave do desenvolvimento da doença. Estas investigações tiveram em conta tumores de diversas localizações, como a pele, mama, próstata, pulmão, cólon e os do foro hematológico.

Sabe-se que, nas células, a acumulação do stress causado pelo tratamento químico da leucemia, contribui para o reaparecimento da doença, tendo os antioxidantes um papel fundamental de combate a esse “mau estar” celular. O resveratrol, tal como outros antioxidantes, tem importância no controlo da doença a longo prazo, representando uma estratégia promissora no tratamento de cancro hematológico. Além disso, este antioxidante tem propriedades anticancerígenas, já que inibe o crescimento do tumor, facilita a destruição das células malignas, diminui a inflamação associada à evolução da doença, dificulta a formação de vasos sanguíneos imprescindíveis para o crescimento do tumor e inibe a propagação da doença além do órgão inicialmente afetado.

O que os estudos revelam é que se deve ter em consideração que os efeitos diferem, dependendo da fase de desenvolvimento do cancro e das concentrações usadas. Baixas concentrações parecem prevenir a formação de cancro mas a administração durante a progressão da doença parece impedir a morte das células malignas.

Por outro lado, altas concentrações mostram, frequentemente, ter uma grande capacidade de destruir essas células. Mais estudos são, no entanto, necessários para definir a sua aplicação e as quantidades a recomendar.

Os benefícios do resveratrol parecem ser importantes mas este composto apresenta características que dificultam a sua utilização no tratamento oncológico. Todavia, derivados do mesmo têm sido produzidos e parecem contribuir para uma boa resposta em doentes.

Estando o resveratrol presente nas uvas, a investigação neste campo recorreu também ao vinho. Estudos laboratoriais com células indicam que baixas doses de vinho inibem fortemente o desenvolvimento das células de cancro do pulmão e diminuem a sobrevivência das mesmas, independentemente do resveratrol e do álcool. Assim, será importante investigar o efeito anticancerígeno em humanos do vinho e não só do resveratrol.

Quanto ao tipo de vinho, tanto o vinho branco como o tinto inibiram significativamente o crescimento das células malignas. No entanto, o último mostrou ser mais potente nessa inibição, o qual apresenta cerca de 1,3-2,5* mg de resveratrol/l, contra os 0,3-0,6* mg/l do vinho branco. Apesar disso, é importante não esquecer que o excesso de ingestão de bebidas alcoólicas também está associado ao aparecimento de cancro, nomeadamente da cavidade oral. Deste modo, é importante não ultrapassar as recomendações de um copo de vinho por dia para as mulheres e de dois para os homens.

* valores médios de trans– e cis-resveratrol, respetivamente, em vinhos portugueses

Referencias: Ali R, et al.. New anticancer agents: recent developments in tumor therapy. Anticancer Res. 2012; 32(7):2999-3005. Barron CC, et al. Inibition of human lung cancer cell proliferation and survival by wine. Cancer Cell International. 2014; 14:6 doi:10.1186/1475-2867-14-6. Lima R et al.. Determination of Stilbenes (trans-Astringin, cis- and trans-Piceid, and cis- and trans-Resveratrol) in Portuguese Wines. J. Agric. Food Chem. 1999; 47: 2666−70. Mohan A, et al. Combinations of plant polyphenols & anti-cancer molecules: a novel treatment strategy for cancer chemotherapy. Anticancer Agents Med Chem. 2013; 13(2):281-95. Meeran SM, et al. Epigenetic targets of bioactive dietary components for cancer prevention and therapy. Clin Epigenet. 2010; 1:101–116. Sun T, et al. Antitumor and antimetastatic activities of grape skin polyphenols in a murine model of breast cancer. Food Chem Toxicol. 2012; 50(10): 3462-7. Meeran SM et al. Epigenetic targets of bioactive dietary components for cancer prevention and therapy. Clin Epigenet. 2010; 1:101–116.
Fonte da imagem: http://imagenes.4ever.eu/tag/18255/racimo-de-uvas

Dina Raquel João é Nutricionista e Mestre em Nutrição Clínica, membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas (nº 0204N), com o Título de Especialista para a área de Terapia a Reabilitação da Classificação Nacional de Áreas de Educação e Formação, subárea da Nutrição, tendo desenvolvido a sua atividade profissional principalmente na prática clínica, na docência e formação e na investigação. Como Nutricionista, iniciou atividade clínica em 2001, tendo exercido a nível hospitalar, em centro de saúde e em clínica privada. A experiência profissional na área da investigação decorreu, essencialmente, na área oncológica, tendo sido premiada nesse campo (1º Prémio de Nutrição Clínica da Fresenius Kabi, em 2002). Conta com diversas comunicações científicas orais e em painel, tanto em eventos nacionais como internacionais. Atualmente, é Professora Adjunta Convidada na Universidade do Algarve – Escola Superior de Saúde, lecionando à licenciatura em Dietética e Nutrição.