Todos nós já passamos por períodos de procrastinação, de cansaço, de procurar algo diferente ou porque se está cansado de praticar a mesma atividade física ou as rotinas incomodam e surge a vontade de mudar, de encontrar algo novo para sentirmos que estamos vivos, mais despertos, mais otimistas.

A vontade de isolamento, o cansaço, a vontade constante de dormir que são frequentemente identificados como sintomas de depressão podem ser razões para deixar de praticar yoga. Também em períodos de maior sobrecarga física e intelectual, devido ao trabalho mais intenso e o avolumar de tarefas familiares podem levar a desistir-se do yoga.

Mas é exatamente, por todas estas razões presentes no quotidiano de muitos, e que fazem parte da vida, que devemos contrariar essa decisão de abandonar a prática do yoga.

O yoga não é uma mera atividade física. O yoga é uma descoberta, uma prática diária que motiva uma atitude que deve ser colocada em prática no dia a dia. Criando uma distância emocional, entre aquilo que se é, o modo como se perceciona a realidade e também, aquilo que é espectável ser, num processo de aceitação de si, do mundo tal como se apresenta e da forma como queremos vivenciar a realidade.

Saber aceitar de forma consciente o que somos, é encontrar o caminho que queremos seguir. É perceber de onde surge a força vital para sermos o que desejamos ser. É apenas aprender a aceitação de si, com todas as características que fazem de cada um, um ser único.

Muitos dos meus alunos chegam à aula a dizer que se sentem cansados. Ao direcionar a aula para uma prática revitalizadora, é muito comum, no final da aula, dizerem que se sentem com a energia renovada. Tenho uma aluna que para conseguir trabalhar noite fora pelas várias exigências próprias da profissão, diz que vir fazer a aula lhe permite “carregar as baterias” e trabalhar de forma mais determinada e concentrada. É muito bom ouvir isso. Para mim significa que o caminho de vida que escolhi é apreendido por quem frequenta o meu espaço e onde dou as aulas de yoga.

Quando as pessoas se afastam da prática de yoga, por acharem que precisam de algo novo, para criar estímulos novos, muitas vezes não é mais do que uma fuga. De facto, se umas vezes essa busca é verdadeira, a prática de yoga abre caminho para outras manifestações de se ser. É muito bom perceber isso.

Quando se sente, que o yoga abriu portas para se ser quem se deseja ser e se considerarmos que o yoga já cumpriu o seu trabalho de construção do ser, então ir ao encontro de novas experiências é fundamental, lógico e promissor.

Também existem alunos que pelo modo como praticam yoga é fácil perceber a rigidez mental em que se encontram. Quando o aluno utiliza o seu corpo de uma forma rígida e inflexível que se torna impossível de o corrigir nas asanas (posturas), significa que não pratica yoga na sua verdadeira essência. Limitam-se apenas a executar as asanas como simples exercícios físicos. Praticar asanas, significa a aceitação do que há. É procurar em cada inspiração, através da expansão da caixa torácica, sentir que o alongamento físico se pode efetivar e ter essa consciência da expansão física do corpo. É ter a perceção mental do estiramento do corpo, da consciência do movimento, o que é fundamental para a expansão dessa consciência. Esta expansão da consciência física, permite o incremento dos níveis de confiança, de autoestima, e autoaceitação.

Outra situação que pode levar a desistir de praticar yoga, é a tomada de consciência do trabalho interior que o yoga desbrava e que pode entrar em conflito com a vida que a pessoa está a viver. Na grande maioria das vezes, as pessoas não abraçam o desafio de mudar a atitude perante a vida, desistindo do yoga para ficarem na vida que têm. São válidas as razões que surgem na altura, mas sempre se traduz num abdicar de um bem maior.

Praticar yoga é um caminho. Não há regras definidas, por isso cada um vai absorver de acordo com as suas caraterísticas de personalidade e de acordo com a sua disponibilidade para perceber que a vida só o é quando a impermanência, o desafio, o risco, o desbravar caminhos novos, é o único caminho.

Pratique yoga de mente e coração aberto. Aceite a mudança, aceite o que a vida oferece. Tudo vai ficar melhor, a paz e a alegria fazem garantidamente parte do caminho.