A população de sobreviventes de cancro da mama, que inclui todas as pessoas diagnosticadas com esta doença, desde o diagnóstico e durante toda a sua vida, é a maior população de sobreviventes de cancro. O grande número de sobreviventes de cancro da mama, deve-se ao elevado número de diagnósticos, já que se trata de um dos cancros mais prevalentes no Mundo, ao diagnóstico cada vez mais precoce da doença e à evolução dos tratamentos.
Dados de 2020 mostram-nos que se registaram 2 261 419 novos casos de cancro da mama e 684 996 mortes no Mundo, sendo um tipo de cancro que afeta maioritariamente mulheres nos continentes asiático e europeu. Em Portugal registaram-se 7 041 novos casos em 2020.
A microbiota intestinal é constituída por um conjunto de microrganismos que colonizam o intestino, tais como bactérias, vírus e fungos. Estes microrganismos vivem em simbiose com o seu hospedeiro e têm-se mostrado relevantes para o surgimento de diversas doenças, entre as quais se inclui o cancro.
Um grupo de investigadores portugueses propôs-se a avaliar se a microbiota intestinal de mulheres sobreviventes de cancro da mama se aproximava ou afastava da composição da microbiota intestinal de mulheres saudáveis. Para isso avaliaram 37 mulheres com cancro da mama, a maioria em estadio IA (47,8%) e IIA (21,7%), todas submetidas a tratamento cirúrgico e endócrino. Outros tratamentos incluíam radioterapia (95,7%) e quimioterapia (56,5%).
Os investigadores verificaram que as sobreviventes de cancro da mama apresentavam maior diversidade da microbiota intestinal que o grupo de mulheres saudáveis. Os resultados relativos à diversidade da microbiota intestinal no cancro da mama não são consensuais, podendo as discrepâncias estar relacionadas com o momento da avaliação – durante ou antes dos tratamentos, com os fármacos a ser tomados, o índice de massa corporal e as características de cada população que poderão incluir diferentes proporções de mulheres pós-menopausa, por exemplo.
Ao analisar a distribuição de bactérias entre os dois grupos, os autores identificaram diferenças. Algumas das bactérias alteradas incluíam um menor número das espécies Akkermansia muciniphila, Faecalibacterium prausnitzii, Escherichia coli, Bacteroides uniformis, do filo Firmicutes e do género Bifidobacterium. Por outro lado, as bactérias do género Shigella e da espécie Clostridium perfringens encontravam-se em maior número no grupo de sobreviventes de cancro da mama, quando comparado com o grupo de mulheres saudáveis.
Apesar do pequeno número de participantes, este estudo mostra-nos que há diferenças na composição e diversidade da microbiota intestinal de sobreviventes de cancro da mama, podendo a modulação da microbiota intestinal ser uma intervenção a considerar nesta população.
[fonte]Referências: Sung H, Ferlay J, Siegel RL, et al. Global Cancer Statistics 2020: GLOBOCAN Estimates of Incidence and Mortality Worldwide for 36 Cancers in 185 Countries. CA Cancer J Clin. 2021;71(3):209-249. Global Cancer Observatory (http://gco.iarc.fr/), International Agency for Research on Cancer 2020; Caleça T, Ribeiro P, Vitorino M, et al. Breast Cancer Survivors and Healthy Women: Could Gut Microbiota Make a Difference?-“BiotaCancerSurvivors”: A Case-Control Study. Cancers (Basel). 2023;15(3):594. Crédito das imagens: Freepik [/fonte]