Para fora do cimento e para dentro da natureza

A exposição à natureza em ambientes fora da rotina parece associar-se a vários benefícios para a saúde. Atividades como simplesmente estar sentado a contemplar a paisagem ou uma breve caminhada pelo verde podem fazer a diferença. Neste artigo explica-se brevemente a afinidade do ser humano pela natureza e apresentam-se possíveis ganhos para a saúde que podem advir de ir para fora do cimento e para dentro da natureza.

Atração pela natureza

O psicólogo Edward Fromm e mais tarde e com maior detalhe o sociólogo Edward O. Wilson desenvolveram a teoria de biofilia. Esta teoria defende que os seres humanos têm uma tendência fisiológica e genética a ligar-se às várias formas de vida – animais, plantas, paisagens.  Assim, é possível considerar que a vontade de ter casas com plantas ou até mesmo jardins, o gosto por animais de estimação, o desejo de viajar para locais onde se possa estar em contacto com a natureza e as atividades desportivas realizadas ao ar livre, são um reflexo disso mesmo. A conexão inata que temos com a natureza convida-nos a preservar e manter o ecossistema em que vivemos.

A natureza e a saúde

Com base nas ideias da teoria da biofilia, vários investigadores tentaram perceber os efeitos da exposição à natureza na saúde de pessoas saudáveis em diferentes dimensões – como o humor,  as funções cognitivas, os indicadores imunológicos, entre outros. Olhando para a prática recreativa de caminhadas dentro da natureza, realizadas de forma voluntária, verificam-se efeitos positivos:

  • No humor e na predisposição para resolver problemas. Por exemplo, Mayer e colegas perceberam que as pessoas que faziam uma caminhada de 10 minutos na natureza sentiam posteriormente mais emoções agradáveis e maior disponibilidade para resolver problemas do que aquelas que faziam caminhadas em meio urbano.
  • Na criatividade e na vitalidade. Tyrväinen e colegas perceberam que após uma uma apreciação da paisagem e uma caminhada na natureza, as pessoas sentia-se com mais energia e mais criativas.
  • Em indicadores de funcionamento imunológico. Por exemplo, um estudo de Li e colaboradores, encontrou um aumento na produção de proteínas anti-cancro e células depois de uma experiência de shinrin-yuko (de imersão na floresta) em que as pessoas saíram de Tóquio por 3 dias e caminharam 2 horas na natureza diariamente.

Infelizmente, ainda não existem estudos robustos suficientes nesta área para garantir que caminhadas pela natureza produzem estes efeitos de uma forma transversal. Contudo, os dados são promissores e devem mover-nos a praticar mais exercício verde.

Referências: Li, Q., Morimoto, K., Kobayashi, M., Inagaki, H., Katsumata, M., Hirata, Y., Hirata, K., Suzuki, H., Li, Y. J., Wakayama, Y., Kawada, T., Park, B. J., Ohira, T., Matsui, N., Kagawa, T., Miyazaki, Y., & Krensky, A. M. (2008). Visiting a forest, but not a city, increases human natural killer activity and expression of anti-cancer proteins. International journal of immunopathology and pharmacology, 21(1), 117–127. https://doi.org/10.1177/039463200802100113; Mayer, F. S., Frantz, C. M., Bruehlman-Senecal, E., & Dolliver, K. (2009). Why is nature beneficial? The role of connectedness to nature. Environment and behavior41(5), 607-643. https://doi.org/10.1177/0013916508319745 ; Mygind, L., Kjeldsted, E., Hartmeyer, R. D., Mygind, E., Bølling, M., & Bentsen, P. (2019). Immersive nature-experiences as health promotion interventions for healthy, vulnerable, and sick populations? A systematic review and appraisal of controlled studies. Frontiers in psychology, 943. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2019.00943 ; Tyrväinen, L., Ojala, A., Korpela, K., Lanki, T., Tsunetsugu, Y., & Kagawa, T. (2014). The influence of urban green environments on stress relief measures: A field experiment. Journal of Environmental Psychology38, 1-9. https://doi.org/10.1016/j.jenvp.2013.12.005

Foto por Ladyfern Photos no Unsplash

Carolina Blom é psicóloga (Nº OPP: 25152), mestre em Psicologia com especialização em Clínica e Saúde pela Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa. Atualmente é estudante de doutoramento na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, onde investiga sobre a qualidade de vida do cuidador informal da pessoa com doença oncológica. No seu percurso académico e profissional trabalhou com adultos maiores institucionalizados, estudantes do 1º ciclo, encarregados de educação, professores e auxiliares e crianças e jovens em risco. O seu interesse na prestação de cuidados às pessoas com doença oncológica despertou durante a experiência enquanto voluntária no acompanhamento de doentes e das suas famílias e, posteriormente, pela experiência pessoal enquanto cuidadora informal. Usa o novo acordo ortográfico. Carolina Blom is a psychologist (License Nr: 25152) and has a master’s degree in Psychology with a specialization in Clinical and Health from the Faculty of Education and Psychology of the Catholic University of Portugal. Currently, she is a PhD student at the Faculty of Psychology and Educational Sciences of the University of Porto, where she researches about the quality of life of the informal cancer caregiver. In her academic and professional path, she worked with older adults, primary school students, teachers, educators, and children and young people at risk. Her interest in cancer caregiving arose during her experience as a volunteer in the care of patients and their families and later through her personal experience as an informal caregiver.