Aceitar a doença

A forma como vivemos um processo de doença depende em parte da forma como lidamos com ela.
Aceitar a doença pode facilitar a experiência da mesma. A par de aceitar, existem outras formas de lidar com a doença. Apresentamos aqui algumas.

Aceitar

Aceitar a doença passa por reconhecer e validar as emoções, os pensamentos e as perceções associados aos seus sintomas e tratamentos. Por sua vez, estas ações facilitam a adaptação a perdas inerentes à doença. Pessoas com uma postura de aceitar mostram-se mais empáticas consigo mesmas e expressam o que sentem sobre a doença a outros. No fundo, procuram lidar com a doença sem julgá-la, tentando adaptar-se às exigências que a mesma e os seus tratamentos implicam e retirando significados positivos desta experiência, como por exemplo “estou a tornar-me mais forte com este desafio” ou “esta doença conseguiu aproximar a nossa família”.

Lutar

A par de aceitar pode vir o espírito de lutar. Ambas as formas de lidar com a doença envolvem um posicionamento ativo, ou seja, procuram trabalhar o problema. No entanto, a segunda está associada a um otimismo por vezes desmensurado relativamente à situação vivida. Em doentes com cancro avançado o espírito de lutar pode implicar mais sofrimento pela vontade de vencer a doença não estar alinhada com as possibilidades de recuperação.

Resignar

No lado oposto do espetro de formas de lidar com a doença, encontra-se a postura de resignar. Aqueles que vivem a doença com esta postura acreditam que não há nada a fazer quanto ao seu destino. Estas pessoas ora desistem do tratamento, ora recebem-no mostrando-se pessimistas quanto ao seu resultado. Emoções desagradáveis como a tristeza, a raiva e a revolta podem surgir de forma mais intensa e recorrente.

Como surge a forma de lidar com a doença?

A personalidade, a capacidade cognitiva, o suporte social, o meio sociocultural e as consequências da doença podem ter um impacto significativo na forma como lidamos com ela. Não existe uma fórmula que garanta que tendo determinadas características vamos adotar uma certa forma de lidar com a doença. A resignação em particular e por vezes o espírito de lutar parecem potenciar mal-estar psicológico. Nestes casos, procurar apoio de profissionais de saúde mental pode ser uma opção.

Referências: González-Fernández, S., & Fernández-Rodríguez, C. (2019). Acceptance and commitment therapy in cancer: review of applications and findings. Behavioral Medicine45(3), 255-269. https://doi.org/10.1080/08964289.2018.1452713; Secinti, E., Tometich, D. B., Johns, S. A., & Mosher, C. E. (2019). The relationship between acceptance of cancer and distress: A meta-analytic review. Clinical psychology review71, 27-38. https://doi.org/10.1016/j.cpr.2019.05.001; Fotografia por Marcos Paulo Prado no Unsplash

Carolina Blom é psicóloga (Nº OPP: 25152), mestre em Psicologia com especialização em Clínica e Saúde pela Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa. Atualmente é estudante de doutoramento na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, onde investiga sobre a qualidade de vida do cuidador informal da pessoa com doença oncológica. No seu percurso académico e profissional trabalhou com adultos maiores institucionalizados, estudantes do 1º ciclo, encarregados de educação, professores e auxiliares e crianças e jovens em risco. O seu interesse na prestação de cuidados às pessoas com doença oncológica despertou durante a experiência enquanto voluntária no acompanhamento de doentes e das suas famílias e, posteriormente, pela experiência pessoal enquanto cuidadora informal. Usa o novo acordo ortográfico. Carolina Blom is a psychologist (License Nr: 25152) and has a master’s degree in Psychology with a specialization in Clinical and Health from the Faculty of Education and Psychology of the Catholic University of Portugal. Currently, she is a PhD student at the Faculty of Psychology and Educational Sciences of the University of Porto, where she researches about the quality of life of the informal cancer caregiver. In her academic and professional path, she worked with older adults, primary school students, teachers, educators, and children and young people at risk. Her interest in cancer caregiving arose during her experience as a volunteer in the care of patients and their families and later through her personal experience as an informal caregiver.