Otites: definição e medidas preventivas

Otite é uma inflamação ou infeção do ouvido. Dependendo da sua localização, podemos considerar três tipos:
1) Otite externa – Afeta o ouvido externo; surge geralmente na sequência de entrada de água no canal auditivo externo ou de trauma por cotonete ou outro objeto. Normalmente causada por fungos e bactérias, sendo mais comum no verão.
2) Otite média – Afeta o ouvido médio; é a mais frequente, sendo mais comum nas crianças e nos meses de inverno. Pode causar dor súbita intensa, desequilíbrio, náuseas, vómitos, febre e sensação de perda auditiva – otite média aguda. Esta pode, por sua vez, evoluir para otite serosa (acúmulo de líquido no ouvido médio), otite mucoide (secreção espessa e viscosa) ou purulenta (presença de pus).
3) Otite interna – Sempre que a infeção afeta o ouvido interno (Labirintite). É considerada a mais grave, pois atinge o labirinto e a cóclea.

Relativamente à otite média, nas crianças, os fatores que favorecem o seu aparecimento são a imaturidade imunitária, gripes, má respiração, rinites alérgicas, aumento das amígdalas e das adenoides. Outra razão prende-se com o funcionamento da trompa de Eustáquio, que é um canal que liga a nasofaringe ao ouvido médio. Na criança este canal é mais curto e horizontalizado, favorecendo, assim, a passagem das secreções da garganta para o ouvido médio. Com o crescimento, este canal vai tendo uma maior inclinação, promovendo uma melhor drenagem do ouvido.
Em qualquer uma das situações é necessário a intervenção do médico otorrinolaringologista.

O tratamento pode ser com recurso a antibióticos, anti-inflamatórios e analgésicos.
O problema maior surge nas otites de repetição, ou seja, quando há ocorrência de pelo menos 3 episódios infeciosos em 6 meses, ou 4 episódios no período de um ano. Nestes casos, pode ser necessário recorrer a cirurgia: miringotomia com colocação de tubos de ventilação para drenagem do ouvido médio. Pode, ainda, haver necessidade de se proceder a amigdalectomia e adenoidectomia. Se a inflamação persiste por mais de 3 meses pode reverter em otite média crónica.
No caso das crianças, é muito importante a avaliação audiológica correta, recorrendo a audiometria e impedanciometria. Quando a otite é recorrente e com perda auditiva, pode comprometer seriamente o desenvolvimento da linguagem, afetando a sua qualidade de vida. Por vezes pode, ainda, camuflar uma surdez neurossensorial associada. O dano auditivo torna-se ainda maior. Nestas situações, nunca se deve descurar o uso adequado de próteses auditivas, quando devidamente indicadas.

Fatores que contribuem para o aparecimento de otites médias:
– Idade inferior a 2 anos
– A natação favorece um maior risco de infeções das vias aéreas superiores, devido a exposição a agentes químicos, vírus, bactérias e fungos
– Frequência de creche ou de escola, com grande número de alunos na sala.
– Uso de chupeta
– Exposição ao fumo de tabaco
– Estação do ano (outono e inverno)

Medidas preventivas para reduzir o risco de contrair otites:
– Tratamento profilático com algumas vacinas (pneumocócica conjugada) e a vacina para influenza, o vírus da gripe
– Boas condições alimentares
– O aleitamento materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida, recomendado para fortalecer o sistema imunológico do bebé
– Evitar que os bebés sejam alimentados deitados, ou que adormeçam com o biberon, pois permite que o líquido escorra facilmente através da trompa de Eustáquio para o ouvido médio
– Uso de protetores auriculares para evitar a entrada de água no ouvido
Relativamente à audição, não reconhecer e tratar devidamente uma surdez de forma precoce e atempada, pode afetar gravemente a capacidade da criança falar e compreender a linguagem. Isto traduz-se, habitualmente, num baixo rendimento escolar, isolamento social e alterações comportamentais importantes

Referência: https://www.saudebemestar.pt/pt/clinica/otorrino/otite/. Critérios de imagem: https://www.wkhs.com/health-resources/wk-health-library/disease-condition-information/ear-nose-and-throat/inflammation-of-the-middle-ear-%28otitis-media%29

Fernanda Gentil é Audiologista na Clínica ORL Dr. Eurico Almeida e Coordenadora da Widex Centros Auditivos – Porto. Licenciada em matemática aplicada – ramo de ciência de computadores, pela FCUP. Professora Adjunta do curso de Audiologia, na ESS do Porto. PhD em Ciências de Engenharia pela FEUP. Investigadora e orientadora de teses de Mestrado e Doutoramento, na FEUP. Os seus principais interesses relacionam-se com a Audiologia e Reabilitação Auditiva, assim como simulações matemáticas de modelos computacionais do ouvido. Fernanda Gentil is Audiologist at the ORL Clinic Dr. Eurico Almeida and Coordinator of Widex-Porto. Degree in Applied Mathematics - Computer Science, FCUP. Audiology Professor at ESS, Porto. PhD in Engineering Sciences, FEUP. Researcher and advisor of Master's and PhD theses at FEUP. His main interests are related to Audiology and Auditory Rehabilitation, as well as mathematical simulations of computational models of the ear.