Possíveis influências na qualidade de vida do cuidador informal

A qualidade de vida é um indicador de bem-estar e refere-se à perceção que a pessoa tem da sua própria vida , no contexto do sistema cultural e de valores em que vive e relacionada com os seus objetivos, expectativas, normas e preocupações. Por ser um conceito tão lato, é frequentemente usado para perceber e comparar a experiência do dia-a-dia das pessoas em vários locais do mundo e em situações de vida potencialmente desafiantes. Os cuidadores informais de pessoas com cancro não são exceção.  Elementos como a idade, o sexo e a situação laboral do cuidador informal podem ter influência na forma como o cuidador informal avalia a sua qualidade de vida.

Fatores relacionados com o cuidador informal

  • O sexo do cuidador informal: por terem tipicamente uma personalidade com maiores níveis de agradabilidade (caracterizada por amabilidade, simpatia, altruísmo), as pessoas do sexo feminino podem prejudicar-se mais pela pessoa doente; adicionalmente, as pessoas do sexo feminino podem sentir-se obrigadas a ser cuidadoras devido à expectativa cultural de que é a mulher que deve cuidar de crianças e familiares doentes
  • A idade do cuidador informal: as pessoas mais velhas tendem a sofrer de doenças crónicas; a sua saúde é tipicamente mais vulnerável pelo que o exercício de cuidar pode ser dificultado; ao mesmo tempo, as pessoas mais velhas fazem uma avaliação emocional mais moderada dos desafios que vivem
  • A situação laboral do cuidador informal: financeiramente uma situação de doença pode ser complicada de gerir, pelo que o emprego do cuidador pode representar uma fonte de rendimento importante; além disso, o trabalho pode permitir ao cuidador afastar-se do desafio de cuidar por algumas horas e facilitar sua socialização com outras pessoas; por outro lado, o trabalho pode constituir mais uma fonte de stress e cansaço.

Fatores relacionados com a prestação de cuidados

  • O número de horas diárias de prestação de cuidados: o excesso de horas a cuidar de alguém pode levar o cuidador a sentir-se mais cansado e com menos disponibilidade para dedicar tempo a si mesmo
  • O sexo da pessoa cuidada: a doença e a situação de necessidade de apoio de outra pessoa podem ameaçar a identidade cultural atribuída ao sexo masculino que prevê que os homens sejam independentes e fortes; esta expectativa cultural parece estar associada a uma maior dependência do cuidador informal e menos tolerância ao apoio de outras pessoas.

Os fatores que influenciam a qualidade de vida do cuidador informal da pessoa com cancro não se esgotam nesta pequena lista. Contudo, pode ser interessante para os cuidadores informais refletirem sobre cada um deles e a influência que têm em si e que impacto sentem dos mesmos na sua qualidade de vida. Desta forma, podem explorar o que está ao seu alcance mudar para uma usufruir de uma maior qualidade de vida na prestação de cuidados a pessoas com cancro.

Referências: Chambers, S. K., Hyde, M. K., Laurie, K., Legg, M., Frydenberg, M., Davis, I. D., Lowe, A., & Dunn, J. (2018). Experiences of Australian men diagnosed with advanced prostate cancer: A qualitative study. BMJ Open, 8(2). https://doi.org/10.1136/bmjopen-2017-019917; Cubukcu, M. (2018). Evaluation of quality of life in caregivers who are providing home care to cancer patients. Supportive Care in Cancer, 26(5), 1457–1463. https://doi.org/10.1007/s00520-017-3968-1; Franchini, L., Ercolani, G., Ostan, R., Raccichini, M., Samolsky-Dekel, A., Malerba, M. B., Melis, A., Varani, S., & Pannuti, R. (2020). Caregivers in home palliative care: Gender, psychological aspects, and patient’s functional status as main predictors for their quality of life. Supportive Care in Cancer, 28(7), 3227–3235. https://doi.org/10.1007/s00520-019-05155-8;Fotografia por  Mikita Yo  no Unslash

Carolina Blom é psicóloga (Nº OPP: 25152), mestre em Psicologia com especialização em Clínica e Saúde pela Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica Portuguesa. Atualmente é estudante de doutoramento na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, onde investiga sobre a qualidade de vida do cuidador informal da pessoa com doença oncológica. No seu percurso académico e profissional trabalhou com adultos maiores institucionalizados, estudantes do 1º ciclo, encarregados de educação, professores e auxiliares e crianças e jovens em risco. O seu interesse na prestação de cuidados às pessoas com doença oncológica despertou durante a experiência enquanto voluntária no acompanhamento de doentes e das suas famílias e, posteriormente, pela experiência pessoal enquanto cuidadora informal. Usa o novo acordo ortográfico. Carolina Blom is a psychologist (License Nr: 25152) and has a master’s degree in Psychology with a specialization in Clinical and Health from the Faculty of Education and Psychology of the Catholic University of Portugal. Currently, she is a PhD student at the Faculty of Psychology and Educational Sciences of the University of Porto, where she researches about the quality of life of the informal cancer caregiver. In her academic and professional path, she worked with older adults, primary school students, teachers, educators, and children and young people at risk. Her interest in cancer caregiving arose during her experience as a volunteer in the care of patients and their families and later through her personal experience as an informal caregiver.