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Ototoxicidade: efeitos no sistema auditivo e medidas preventivas

Ototoxicidade

A ototoxicidade refere-se ao dano provocado no ouvido interno e sistema auditivo nervoso central, devido a medicamentos ou a exposição a produtos químicos. Esta situação pode resultar em alterações auditivas ou vestibulares.
Vários medicamentos administrados em altas doses no tratamento do cancro, de infeções ou de outras doenças podem causar ototoxicidade. São aqui incluídas drogas essenciais à quimioterapia (cisplatina, carboplatina, oxaliplatina, entre outras), quinino, alguns diuréticos, e alguns antibióticos (e.g. gentamicina, neomicina, estreptomicina, eritromicina, amikacina). A exposição a pesticidas e metais pesados (mercúrio, chumbo, estanho ou monóxido de carbono) em ambientes industriais ou ocupacionais, pode também levar à ototoxicidade. Durante a gravidez, os produtos ototóxicos, podem afetar, não só a mãe, como também o feto.

A ototoxicidade tornou-se mais relevante com a descoberta da estreptomicina em 1944. Esta era utilizada com sucesso no tratamento da tuberculose, mas como efeito colateral, surgiam disfunções cocleares e vestibulares irreversíveis.
As drogas de quimioterapia à base de platina são mais propensas a causar perda auditiva severa e permanente, geralmente em ambos os ouvidos. Crianças submetidas a quimioterapia, ou adultos sujeitos a radiação à cabeça e pescoço, estão entre os casos em que se verifica maior evidência de ototoxicidade. Os tratamentos com salicilatos ou diuréticos, geralmente, provocam perdas reversíveis, quando os mesmos são interrompidos.
Os danos provocados nos órgãos auditivos dependem da dosagem e do tempo de utilização da medicação. Estas drogas podem afetar partes do ouvido interno (cóclea), nervo auditivo/vestibular, ou mesmo o sistema nervoso auditivo central. Crianças e idosos têm maior risco de ototoxicidade. Há medicamentos ototóxicos que afetam o sistema auditivo e outros que afetam mais o sistema vestibular.

O resultado é perda auditiva, uni ou bilateral, que pode ir de leve a profunda. Normalmente, ocorre zumbido e hiperacusia (hipersensibilidade aos sons). Se os órgãos do equilíbrio forem atingidos, podem ocorrer, não só, tonturas e náuseas, mas também desequilíbrio e visão comprometida. Os sintomas podem ser temporários ou permanentes. Geralmente, a perda auditiva ocorre, primeiro, nas frequências mais agudas, progredindo para as restantes.
O diagnóstico é feito a partir da história clínica do paciente, dos seus sintomas e dos resultados dos exames audiológicos e vestibulares. Os mais importantes incluem:
• audiograma tonal e vocal (avaliação da audição). Em particular, audiograma de altas frequências, até 16 kHz, por serem estas as primeiras a serem atingidas
• potenciais evocados auditivos do tronco cerebral (avaliação das respostas do nervo auditivo até ao córtex cerebral).
• otoemissões acústicas (avaliação das células ciliadas externas da cóclea)
• videonistagmografia (em casos de problemas vestibulares)
• posturografia dinâmica (estudo do equilíbrio postural)

É importante fazer um teste auditivo antes de se iniciar qualquer tratamento com medicamentos ototóxicos. Este vai servir de comparação a testes futuros, de seguimento, visando a deteção da ototoxicidade. A prevenção é, portanto, a única forma de reduzir o risco de perda auditiva. Se a ototoxicidade for detetada precocemente, pode haver a possibilidade de alterar a medicação, revertendo a situação.
Se os danos forem permanentes, há necessidade de recorrer à tecnologia auditiva, nomeadamente, aparelhos auditivos ou implantes cocleares. A fisioterapia também pode ser aconselhada na recuperação do equilíbrio.

A ototoxicidade em crianças exige uma atenção particular, havendo necessidade de intervenção tão precoce quanto possível. Isto, tendo em consideração os estádios desenvolvimentais associados à aquisição da fala e da linguagem.
O mecanismo exato que provoca a ototoxicidade não é totalmente conhecido. Hoje em dia, ainda não há cura, quando esta se torna permanente. No entanto, a investigação procura otoprotetores, no sentido de curar/minimizar os efeitos ototóxicos. Vários estudos sobre regeneração celular poderão contribuir para a cura da ototoxicidade, otimizando a qualidade de vida das pessoas expostas a esta medicação.

[fonte]Referências:Konrad-Martin, et al. Applying U.S. national guidelines for ototoxicity monitoring in adult patients: Perspectives on patient populations, service gaps, barriers and solutions. Int J Audiol. 2018 Sep; 57(SUP4): S3–S18.
doi: 10.1080/14992027.2017.1398421.; Créditos de imagem: https://www.genengnews.com/insights/targeting-the-inner-ear/[/fonte]

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