O cancro da mama, assim como todos os tipos de cancro, é uma doença catabólica, em que a redução da massa muscular está presente, traduzindo-se muitas vezes em obesidade sarcopénica, ou seja na co-existência de obesidade e baixa massa muscular.
É importante falar sobre obesidade sarcopénica, porque sabemos hoje que esta tem impacto na sobrevivência e na função física dos doentes com cancro. A sarcopenia, assim como a obesidade sarcopénica têm sido consistentemente associadas a desfechos desfavoráveis em doentes oncológicos. A obesidade sarcopénica é um preditor independente de sobrevivência, está associada a mais complicações cirúrgicas, doses limitantes de QT e maior mortalidade e a sarcopenia, um preditor independente para toxicidade severa e menor tempo para a progressão do tumor.
Estima-se que entre 40% a 60% dos doentes com cancro, na altura do diagnóstico, tem excesso de peso ou obesidade e que paralelamente a prevalência de sarcopenia neste mesmo momento do diagnóstico é de 40% a 50%. É assim muito relevante olhar para a composição corporal, mais do que para o índice de massa corporal, já que este não permite distinguir que componente do peso corresponde a gordura ou massa muscular.
Olhando com maior detalhe para o cancro da mama, uma revisão sistemática de 2019, identificou uma prevalência de sarcopenia de 43,2% nesta população. No cancro da mama em estadios iniciais, a sarcopenia está associada a menor sobrevivência global e menor sobrevivência livre de doença.
Quando temos em conta o cancro da mama não metastático, também identificamos menor sobrevivência nos doentes sarcopénicos, assim como nos doentes com menor qualidade do músculo, ou seja, quando se identifica infiltração de gordura no tecido muscular.
Uma revisão sistemática e meta-análise de 2019 que incluiu 21 artigos e avaliou a evidência relativa à sarcopenia e densidade muscular no cancro da mama, identificou resultados distintos para o cancro da mama inicial e para a doença mestastática. A baixa densidade muscular, que reflete a elevada infiltração de tecido adiposo no músculo, estando por isso associado a maior inflamação sistémica e maior resistência à insulina, foi fator prognóstico para a mortalidade global nas mulheres com cancro da mama metastático mas não para as mulheres com cancro inicial. Neste estudo os autores identificaram maior risco de toxicidade nas mulheres sarcopénicas. Apesar dos resultados desta meta-análise apresentarem elevada heterogeneidade e apesar desta ter incluído um número limitado de estudos, reforçam que vale a pena acompanhar as variações na composição corporal e definir estratégias que possam contrariam o agravamento e/ou surgimento de sarcopénia.
[fonte]Referências: Prado CM, Cushen SJ, Orsso CE, Ryan AM. Sarcopenia and cachexia in the era of obesity: clinical and nutritional impact. Proc Nutr Soc. 2016;75(2):188-198. Baracos VE, Arribas L. Sarcopenic obesity: hidden muscle wasting and its impact for survival and complications of cancer therapy. Ann Oncol. 2018;29(suppl_2):ii1-ii9. Caan BJ, Cespedes Feliciano EM, Prado CM, et al. Association of Muscle and Adiposity Measured by Computed Tomography With Survival in Patients With Nonmetastatic Breast Cancer. JAMA Oncol. 2018;4(6):798-804. Rossi F, Valdora F, Bignotti B, Torri L, Succio G, Tagliafico AS. Evaluation of body Computed Tomography-determined sarcopenia in breast cancer patients and clinical outcomes: A systematic review. Cancer Treat Res Commun. 2019;21:100154. Aleixo GFP, Williams GR, Nyrop KA, Muss HB, Shachar SS. Muscle composition and outcomes in patients with breast cancer: meta-analysis and systematic review. Breast Cancer Res Treat. 2019;177(3):569-579. Crédito das imagens: Freepik [/fonte]