Declínio cognitivo associado à quimioterapia: como lidar com os efeitos

O aparecimento de chemobrain ou de declínio cognitivo associado à quimioterapia, é relatado por cerca de 30% dos doentes. Esta queda das funções cognitivas pode acontecer durante ou após o termino do tratamento.

Os sintomas variam de doente para doente, tal como a duração e a severidade desses efeitos. Os sintomas apontados, como mais comuns, são: perda de memória, dificuldades de concentração e dificuldades de raciocínio. E apesar dos avanços significativos sobre os aspetos clínicos deste fenómeno, não há um teste para avaliar ou facilitar o seu diagnóstico, pois há vários mecanismos propostos para explicar o declínio cognitivo associado à quimioterapia, mas nada está claramente estabelecido.

Também não existe um tratamento preconizado para o chemobrain como solução rápida. No entanto, alguns medicamentos e estratégias para lidar com os efeitos adversos da quimioterapia na queda cognitiva têm mostrado ser úteis.

As estratégias para ajudar a controlar o chemobrain passam por uma rotina diária organizada, por exercícios para o cérebro, atividade física e sono adequado.

Vejamos alguns exemplos dessas estratégicas:

  1. Um bom planeamento do dia a dia pode ajudar a ultrapassar os sintomas. Use o calendário do smartphone com alarmes definidos para os compromissos importantes e mantenha sempre a mesma rotina. Também os velhinhos post-it coloridos, no lugar certo podem ajudar a lembrar o que precisa de ser feito dia após dia.
    Para cozinhar, use um relógio para lembrar o que está a fazer no fogão.
    Escolha um local único para objetos como chaves, telemóvel, carteira e coloque-os sempre no mesmo sitio.
  2. Aceite as suas limitações para não cair na tentação de assumir tarefas que sejam múltiplas e por isso mais complexas para esta etapa. Faça as tarefas mais exigentes na hora do dia em que sentir mais energia. E tente não fazer múltiplas tarefas. Concentre-se em uma coisa de cada vez.
  3. Peça ajuda aos amigos e à família e escolha uma perspectiva positiva, de bom humor. São eles que podem ajudar nas tarefas diárias para reduzir as distrações e economizar energia mental.
  4. Exercite o cérebro com atividades de aprendizagem para melhorar a função cerebral. Faça uma aula, faça palavras cruzadas, sudoku e outros jogos ou aprenda um novo idioma.
  5. O exercício físico pode melhorar as diferentes capacidades mentais e a capacidade de concentração. Atividades como jardinagem, cuidar de animais de estimação ou caminhar podem ajudar a melhorar seus níveis de atenção e concentração. A atividade física regular é boa para o corpo, melhora o humor e diminui a fadiga.
  6. Descanse e durma o suficiente.
  7. Coma vegetais. Há estudos a indicar uma relação positiva entre uma maior ingestão de fruta e vegetais e o aumento da capacidade cognitiva. A função cognitiva melhorada foi associada com uma ingestão diária superior a 250g/dia de vegetais acompanhada de ingestão diária de fruta. Além disso, deve-se dar particular importância à variedade no consumo de fruta e vegetais, dando prioridade aos muito ricos em micronutrientes que podem desempenhar um papel na função cognitiva melhorada, como são as antocianinas e a luteína.
  8. Evite as bebidas alcoólicas e outras bebidas que possam influenciar o estado mental e os padrões de sono.
  9. Experimente fazer meditação.
    A meditação pode ajudar a melhorar a função cerebral, aumentando o foco e a consciência.

Por fim, fale com a sua equipa médica responsável pelo seu tratamento e partilhe os seus problemas cognitivos para receber recomendações e apoio em como lidar com esses efeitos. Tente não se concentrar nos efeitos que o incomodam, mas aceite-os para conseguir encontrar boas soluções.

Referências: Coro, D., Hutchinson, A., Dahlenburg, S., Banks, S., & Coates, A. (2019). The relationship between diet and cognitive function in adult cancer survivors: a systematic review. Journal of Cancer Survivorship13(5), 773-791.; https://www.cancer.org/treatment/treatments-and-side-effects/physical-side-effects/changes-in-mood-or-thinking/chemo-brain.html

Margarida Vieira, nutricionista, licenciada em Ciências da Nutrição (FCNAUP-1991), mestre em Nutrição Clínica (ISCSEM-2008). Doutorada em Estudos da Criança, na especialidade de saúde infantil pela Universidade do Minho. Membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas com a cédula profissional nº 0052N. Investigadora na Fundação para a Ciência e Tecnologia (2011-2015). Membro do Centro de Investigação em Estudos da Criança – CIEC. Desenvolve a sua atividade na Investigação e na área da Nutrição Clínica. É autora e coordenadora de projectos de prevenção primária na área da saúde, bem como na organização e dinamização de seminários sobre hábitos alimentares saudáveis, predominantemente em ambiente escolar. Os seus atuais interesses de investigação, são no domínio da promoção e da comunicação para a saúde, na prevenção do cancro e de outras doenças crónicas. Responsável pela conceção e coordenação de campanhas para a prevenção do cancro. Trabalhou no Marketing Farmacêutico e especializou-se em Gestão e Comunicação da Marca (IPAM – 2003). Autora e fundadora do Stop Cancer Portugal, adotar um estilo de vida saudável. Usa o novo acordo ortográfico. Margarida Vieira, nutritionist, is PhD in Child Studies of the University of Minho. Member collaborator of the Research Centre for Child Studies - CIEC. 
She is author and coordinator of projects for primary prevention in health care as well as in the organization and promotion of workshops on healthy eating habits in the schools. Her current research interests are cancer prevention and other chronic diseases and health communication.
 Responsible for the design and coordination of the awareness of campaigns for the prevention of cancer. Worked in Pharmaceutical Marketing and specializes in Brand Management and Communication. Author and Founder of Stop Cancer Portugal Project.