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Cancro da próstata e cálcio: qual é a relação?

cancro da próstata e cálcio

Quando os doentes recorrem às consultas de Nutrição Oncológica, é comum terem dúvidas acerca da possível relação entre cancro da próstata e cálcio. Assim, é importante proceder-se a um esclarecimento baseado na evidência científica atual.

Cancro da próstata e cálcio: o que é e para que serve o cálcio?

O cálcio é o mineral que existe em maior quantidade no organismo, sendo armazenado, principalmente, no tecido ósseo.

Para além da função estrutural nos ossos, o cálcio atua na transmissão de impulsos nervosos, na coagulação sanguínea, na vasoconstrição e na vasodilatação, na contração e relaxamento dos músculos, na libertação de hormonas, na sinalização intracelular e na manutenção do ritmo cardíaco. Contribui também para o normal metabolismo energético, para um correto funcionamento das enzimas necessárias à digestão e para os processos de divisão e especialização celular.

Os alimentos e os suplementos alimentares são as principais fontes de cálcio. De entre os primeiros, destacam-se o leite e os seus derivados, como o queijo e o iogurte, e alguns vegetais, como a couve e os bróculos. O cálcio pode ser encontrado noutros alimentos, aos quais foi adicionado pela indústria alimentar (cereais, bebidas, entre outros).

Cancro da próstata e cálcio: o que nos diz a ciência?

Para se investigar a relação entre cancro da próstata e cálcio, foram desenvolvidos estudos pré-clínicos, em células de cancro da próstata e em modelos animais, e estudos em humanos.

Cancro da próstata e cálcio: Estudos in vitro

Quando consideradas apenas células, o leite de vaca pode estimular o crescimento de células de cancro da próstata, não parecendo esse crescimento ser afetado pela bebida de soja. Já no caso da bebida de amêndoa, pode inibir o desenvolvimento das células cancerígenas.

Cancro da próstata e cálcio: Estudos in vivo

É imprescindível estudar o efeito num organismo e não apenas considerar células isoladas. Deste modo, foram desenvolvidos trabalhos em roedores.
Um desses estudos concluiu que o tamanho do tumor e a progressão da doença foi similar entre os animais que consumiram doses baixas de cálcio e aqueles que consumiram doses elevadas do mineral.

Outro trabalho usando roedores estudou o impacto da vitamina D e do cálcio. Os animais que receberam a dieta normal em cálcio e pobre em vitamina D apresentaram tumores maiores que os roedores submetidos a uma alimentação rica em cálcio e vitamina D.

Cancro da próstata e cálcio: Estudos em humanos

cancro da próstata e cálcioVários foram os trabalhos epidemiológicos realizados que pretendiam avaliar a influência do consumo de cálcio, de laticínios ou ambos no risco de desenvolvimento de cancro da próstata. Os resultados são bastante diversos: risco aumentado, fraca relação, sem qualquer relação e risco diminuído. Estas diferenças prendem-se com as metodologias usadas, com as limitações das mesmas e com a competição com outros fatores de risco presentes que não foram considerados. Contudo, de um modo geral, estes estudos observacionais sugerem que uma ingestão elevada de cálcio pode estar associada a um risco aumentado de cancro da próstata e a uma forma mais agressiva da doença, comparativamente a uma baixa ingestão.

No que diz respeito ao risco de recorrência da doença após cirurgia, parece estar aumentado tanto em homens com ingestão elevada como com baixa ingestão de cálcio. Num ensaio clínico randomizado (estudo de intervenção), foram considerados dois grupos: grupo de homens a quem foi dado cálcio, durante 4 anos; grupo a quem não foi dado qualquer suplemento de cálcio. Ambos foram seguidos durante 12 anos, tendo os investigadores verificado que, nos primeiros 6 anos, existiram poucos casos de cancro da próstata em ambos os grupos e que, ao fim de 10 anos, não havia diferença entre o número de casos de doença entre os dois.

Vários são, também, os estudos de revisão efetuados, não havendo consenso entre eles. Assim, uns mostram existir aumento do risco de cancro da próstata com o consumo de cálcio e de laticínios, outros mostram não haver qualquer relação. O cálcio oriundo de fontes vegetais, parece não estar relacionado com esse risco.

Quando o mineral é ingerido sob a forma de suplementos, dois estudos mostraram não haver aumento da probabilidade de desenvolvimento da doença. Um deles concluiu, ainda, que também não existe aumento da taxa de mortalidade por cancro da próstata.

[fonte] Referências: Tate PL et al: Milk stimulates growth of prostate cancer cells in culture. Nutr Cancer 63 (8): 1361-6, 2011; Mordan-McCombs S et al.: Dietary calcium does not affect prostate tumor progression in LPB-Tag transgenic mice. J Steroid Biochem Mol Biol 103 (3-5): 747-51, 2007; Ray R et al.: Effect of dietary vitamin D and calcium on the growth of androgen-insensitive human prostate tumor in a murine model. Anticancer Res 32 (3): 727-31, 2012; Butler LM et al.: Calcium intake increases risk of prostate cancer among Singapore Chinese. Cancer Res 70 (12): 4941-8, 2010; Kurahashi N et al.: Dairy product, saturated fatty acid, and calcium intake and prostate cancer in a prospective cohort of Japanese men. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 17 (4): 930-7, 2008; Raimondi S et al.: Diet and prostate cancer risk with specific focus on dairy products and dietary calcium: a case-control study. Prostate 70 (10): 1054-65, 2010; Park Y et al.: Calcium, dairy foods, and risk of incident and fatal prostate cancer: the NIH-AARP Diet and Health Study. Am J Epidemiol 166 (11): 1270-9, 2007; Giovannucci E et al.: A prospective study of calcium intake and incident and fatal prostate cancer. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 15 (2): 203-10, 2006; Koh KA et al.: Dairy products, calcium and prostate cancer risk. Br J Cancer 95 (11): 1582-5, 2006; Ahn J et al.: Dairy products, calcium intake, and risk of prostate cancer in the prostate, lung, colorectal, and ovarian cancer screening trial. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 16 (12): 2623-30, 2007; Mitrou PN et al.: A prospective study of dietary calcium, dairy products and prostate cancer risk (Finland). Int J Cancer 120 (11): 2466-73, 2007; Kesse E et al.: Dairy products, calcium and phosphorus intake, and the risk of prostate cancer: results of the French prospective SU.VI.MAX study. Br J Nutr 95 (3): 539-45, 2006; Rohrmann S et al.: Meat and dairy consumption and subsequent risk of prostate cancer in a US cohort study. Cancer Causes Control 18 (1): 41-50, 2007; Binder M et al.: Calcium intake, polymorphisms of the calcium-sensing receptor, and recurrent/aggressive prostate cancer. Cancer Causes Control 26 (12): 1751-9, 2015; Baron JA et al.: Risk of prostate cancer in a randomized clinical trial of calcium supplementation. Cancer Epidemiol Biomarkers Prev 14 (3): 586-9, 2005; Gao X et al: Prospective studies of dairy product and calcium intakes and prostate cancer risk: a meta-analysis. J Natl Cancer Inst 97 (23): 1768-77, 2005;Huncharek M at al: Dairy products, dietary calcium and vitamin D intake as risk factors for prostate cancer: a meta-analysis of 26,769 cases from 45 observational studies. Nutr Cancer 60 (4): 421-41, 2008;Qin LQ et al.: Milk consumption is a risk factor for prostate cancer in Western countries: evidence from cohort studies. Asia Pac J Clin Nutr 16 (3): 467-76, 2007; Bristow SM et al.: Calcium supplements and cancer risk: a meta-analysis of randomised controlled trials. Br J Nutr 110 (8): 1384-93, 2013; Aune D et al.: Dairy products, calcium, and prostate cancer risk: a systematic review and meta-analysis of cohort studies. Am J Clin Nutr 101 (1): 87-117, 2015. Fontes de imagens: https://www.segs.com.br/saude/135876-calcio-necessario-para-seres-humanos-e-plantas; https://www.medicalnewstoday.com/articles/314157.php [/fonte]

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