Períodos prolongados em frente a um ecrã promovem o ganho de peso

Com a expansão das tecnologias digitais, o tempo em frente a um ecrã aumentou significativamente em poucos anos. Uma das maiores diferenças entre as tecnologias anteriores e as digitais é que os ecrãs de computador, tablet e smartphones monopolizam a nossa atenção por muitas mais horas do que as que dedicávamos a assistir televisão.

Um dia de trabalho dura cerca de oito horas e é passado frente a um monitor, os momentos de lazer são gastos diante de outros ecrãs. Em simultâneo, o tempo despendido em trabalhos de rotina manuais, que requerem força física, diminuiu drasticamente os níveis de atividade física. A estas alterações do estilo de vida estão outras associadas: somos transportados por veículos, não percorremos regularmente longas distâncias a pé, o que seria um contributo para o equilíbrio energético no final do dia.

O tempo excessivo passado nas tarefas digitais pode afetar o peso corporal de acordo com o relatório mais recente da World Cancer Research Fund e avisa: quanto maior é o tempo de exposição aos ecrãs, mais inativos ficamos e menos energia gastamos. Portanto, períodos prolongados em frente a um ecrã promovem o ganho de peso, o sobrepeso e a obesidade. E a obesidade é, atualmente, identificada como fator de risco para o aumento de pelo menos 12 tipos de cancro: boca, faringe e laringe; adenocarcinoma do esófago, estômago; pâncreas, vesícula biliar, fígado, intestino; mama (pós-menopausa); ovário; endométrio; próstata e rins.

Com esta realidade, como podemos quebrar o atual padrão de inatividade? Que hábitos positivos podemos introduzir para contrapor o atual estilo sedentário?

É importante ter uma abordagem mais equilibrada do uso de dispositivos tecnológicos. As crianças precisam dos elementos básicos do desenvolvimento infantil, como os jogos e as brincadeiras ao ar livre e a interação social.

Para promover a saúde e o desenvolvimento da criança no novo mundo digital, os pais e os educadores das crianças pequenas devem ser aconselhados sobre o uso apropriado das tecnologias, para regular o tempo de exposição.

Regular o tempo de exposição aos ecrãs

A Sociedade de Pediatria do Canada dá algumas recomendações específicas:

1- Reduza o tempo de exposição aos ecrãs:

  • crianças menores de 2 anos não é recomendado
  • crianças de 2 a 5 anos -1 hora por dia no máximo
  • crianças com mais de 5 anos – 2 horas no máximo.

Defina regras para o uso digital. Estabeleça horários livres de qualquer dispositivo ou ecrã, por exemplo às refeições em família e para ler livros. Exclua todos os dispositivos 1 hora antes de dormir.

2- Diminua os riscos associados ao tempo de exposição aos ecrãs: esteja presente e, sempre que possível, partilhe esse tempo com as crianças.

  • filtre o conteúdo e dê prioridade a programação educativa e interativa, adaptada à idade.
  • use estratégias indutoras da auto-regulação e fixe limites.

3- Faça um plano familiar para o uso dos dispositivos em casa: realize uma autoavaliação dos hábitos para o uso apropriado dos ecrãs: quando, como e onde  podem (ou não) ser usados.

  • ajude as crianças a reconhecer e a questionar mensagens publicitárias e outros conteúdos problemáticos.
  • lembre-se: muito tempo em frente a um ecrã significa oportunidades perdidas para aprender.
  • convença-se: não há evidências que apoiem a introdução de tecnologia em idades precoces.

4- Os adultos devem utilizar as tecnológicas de modo saudável:

  • escolha alternativas saudáveis, como leitura, atividades ao ar livre e atividades manuais e criativas.
  • desligue os seus dispositivos em casa, nos momento de família.
  • desligue os ecrãs quando não estiver a usar, evite a TV em segundo plano.
Referências: World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research. (2018). Third expert report: diet, nutrition, physical activity and cancer: a global perspective.; Alice Charach, M. D., Bélanger, S. A., McLennan, J. D., & Nixon, M. K. (2017). Screen time and young children: Promoting health and development in a digital world. Paediatrics & child health461, 468.

Margarida Vieira, nutricionista, licenciada em Ciências da Nutrição (FCNAUP-1991), mestre em Nutrição Clínica (ISCSEM-2008). Doutorada em Estudos da Criança, na especialidade de saúde infantil pela Universidade do Minho. Membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas com a cédula profissional nº 0052N. Investigadora na Fundação para a Ciência e Tecnologia (2011-2015). Membro do Centro de Investigação em Estudos da Criança – CIEC. Desenvolve a sua atividade na Investigação e na área da Nutrição Clínica. É autora e coordenadora de projectos de prevenção primária na área da saúde, bem como na organização e dinamização de seminários sobre hábitos alimentares saudáveis, predominantemente em ambiente escolar. Os seus atuais interesses de investigação, são no domínio da promoção e da comunicação para a saúde, na prevenção do cancro e de outras doenças crónicas. Responsável pela conceção e coordenação de campanhas para a prevenção do cancro. Trabalhou no Marketing Farmacêutico e especializou-se em Gestão e Comunicação da Marca (IPAM – 2003). Autora e fundadora do Stop Cancer Portugal, adotar um estilo de vida saudável. Usa o novo acordo ortográfico. Margarida Vieira, nutritionist, is PhD in Child Studies of the University of Minho. Member collaborator of the Research Centre for Child Studies - CIEC. 
She is author and coordinator of projects for primary prevention in health care as well as in the organization and promotion of workshops on healthy eating habits in the schools. Her current research interests are cancer prevention and other chronic diseases and health communication.
 Responsible for the design and coordination of the awareness of campaigns for the prevention of cancer. Worked in Pharmaceutical Marketing and specializes in Brand Management and Communication. Author and Founder of Stop Cancer Portugal Project.