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Antioxidantes – os efeitos dos suplementos no cancro

antioxidantes,

Os doentes oncológicos devem obter todos os nutrientes a partir dos alimentos, desaconselhando-se o uso de suplementos alimentares. Esta é uma recomendação unânime de instituições de renome como a American Cancer Society, a World Cancer Research Fund e o American Institute for Cancer Research. Contudo, é muito comum os doentes com cancro recorrerem a este tipo de produtos. Os mais populares são os suplementos à base de antioxidantes.

Antioxidantes e cancrosuplementos antioxidantes

O uso de antioxidantes em doentes oncológicos tem sido estudado em duas grandes vertentes: (1) como agentes anticancerígenos potenciais e (2) para reduzir os danos oxidativos resultantes da quimio e da radioterapia.

Os agentes anticancerígenos diminuem os efeitos prejudiciais no ADN, reduzem a proliferação da doença e a angiogénese e aumentam a apoptose.

Vários estudos têm sido realizados para avaliar o impacto dos antioxidantes no cancro. Atualmente, a ciência sugere que o efeito pode ser negativo.

Considerando o efeito sobre o risco de desenvolvimento da doença, a suplementação com beta-caroteno parece aumentar o risco de cancro do pulmão e do estômago. No que diz respeito à vitamina E, parece aumentar o risco de cancro da próstata e de adenoma colo-retal. Por outro lado, em populações com baixos níveis séricos de selénio (<106 ng/ml), verificou-se uma prevalência mais baixa de cancro do pulmão, contrastando com as taxas elevadas em populações com níveis mais elevados (>126 ng/ml).

Uma meta-análise de ensaios randomizados concluiu que a suplementação com antioxidantes parece ter efeitos adversos na mortalidade da população em geral. A mortalidade aumentou com a suplementação de beta-caroteno, de vitamina E e  com doses elevadas de vitamina A. No caso da vitamina E associada ao selénio, nenhum trouxe benefícios na mortalidade.

Assim, além do aumento do risco de alguns tipos de cancro, a ciência confirma os efeitos adversos dos antioxidantes na mortalidade em geral, sobretudo em doentes com dignóstico de cancro.

Existe, ainda, outro fator de preocupação. Embora os antioxidantes possam reduzir a toxicidade da quimio e da radioterapia, pode ocorrer uma diminuição da eficácia do tratamento. Isto acontece, pois a radioterapia e muitos agentes usados na quimioterapia exercem o seu efeito através da produção de espécies reativas de oxigénio e por aumento da apoptose.

Antioxidantes e radioterapia

Nos doentes com cancro da cabeça e pescoço, apesar dos antioxidantes reduzirem a toxicidade da radioterapia, pode também aumentar a recorrência da doença e da mortalidade, principalmente entre aqueles que mantiveram o consumo tabágico durante o tratamento. Tanto o tabaco como os antioxidantes podem reduzir os efeitos da radioterapia. No caso do tabaco, o efeito assenta no facto de aumentar os níveis de carboxihemoglobina e de hipoxia, os quais reduzem os efeitos do tratamento que estão dependentes do oxigénio. Todavia, é de referir que os estudos realizados não são consensuais quanto aos resultados obtidos. Por exemplo a suplementação com beta-caroteno parece não prejudicar o prognóstico de doentes com cancro da próstata.

Antioxidantes e quimioterapia

Foram realizados alguns estudos de curto prazo para mostrar que efeitos benéficos podemos obter com os antioxidantes. A vitamina E reduziu a neuropatia da cisplatina e o selénio a toxicidade hematológica, sem, contudo, ter influência na nefrotoxicidade e na ototoxicidade do mesmo citotóxico. Quanto à vitamina E, não foi verificado um efeito benéfico da suplementação na redução da toxicidade de vários citotóxicos (neuropatia associada a taxanos, neuropatia periférica induzida pela oxaliplatina, cardiotoxicidade da antraciclina e toxicidade geral associada à caboplatina).

No entanto, dos estudos científicos consultados, nenhum avaliou os efeitos a longo prazo da suplementação com antioxidantes durante a quimioterapia, na recorrência da doença e na mortalidade.

Antioxidantes e doentes oncológicos

Parece não haver influência da suplementação no prognósticos em situações bem definidas: a suplementação com selénio nos doentes pós-cirúrgicos com cancro do pulmão do tipo “não-pequenas células”, em doentes com cancro da cabeça e pescoço, após radioterapia, suplementados com beta-caroteno e em doentes com cancro não tratado e suplementados com vitaminas E e C, selénio e coenzima Q10. Também há evidência de que a suplementação com selénio não diminui a recorrência do cancro da bexiga.

Por outro lado, a suplementação com antioxidantes diminuiu a recorrência de adenomas do cólon entre não fumadores e não consumidores de álcool mas duplicou o risco entre fumadores e naqueles que consumiam mais do que uma bebida alcoólica por dia.

Adicionalmente, verificou-se diminuição da recorrência de cancro não invasivo da bexiga com a suplementação com vitamina E.

Os antioxidantes podem ter efeitos benéficos ou adversos em doentes com cancro. Parece que tudo depende do antioxidante. Isto é: qual é o antioxidante? Em que dose? E de que forma? Mas, também depende das características do doente (estado nutricional, tabaco, consumo elevado de bebidas alcoólicas), da localização do tumor e do tratamento. Assim e nesta matéria, ainda há muitas perguntas sem resposta. Todavia, é importante referir que os efeitos adversos referidos estão associados ao consumo de suplementos e não à obtenção de antioxidantes que naturalmente se encontram nos alimentos.

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