Enzimas pancreáticas no cancro do pâncreas
Uma das funções do pâncreas é secretar enzimas essenciais para a digestão dos alimentos: as enzimas pancreáticas. Mais precisamente, para “quebrar” as moléculas de gordura, proteínas e hidratos de carbono em compostos mais simples capazes de serem absorvidos.
Assim, a falha na produção enzimática poderá levar a um prejuízo na digestão e, como tal, na absorção de nutrientes. Uma das causas para essa falha corresponde ao cancro do pâncreas e, também, ao tratamento cirúrgico que o tratamento possa envolver.
Deste modo, se tomada de forma adequada, a suplementação com enzimas pancreáticas pode ajudar a prevenir a perda de peso e a controlar os sintomas associados a uma produção de enzimas insuficiente.
Enzimas pancreáticas: que tipos existem?
Existem três tipos de enzimas pancreáticas: lipase, protease e amilase.
A lipase é a enzima responsável pela digestão das moléculas de gordura, podendo a sua escassez resultar em carência de gordura e de vitaminas lipossolúveis e/ou em diarreia e/ou fezes gordurosas.
Outra das enzimas produzidas pelo pâncreas é a protease, responsável pela degradação das proteínas. A falta da mesma pode causar alergias ou a formação de substâncias tóxicas e o risco acrescido de infeções intestinais por bactérias, fungos ou parasitas.
Por último, tem-se a amilase, a qual degrada os hidratos de carbono em açúcares capazes de serem absorvidos. Em situações de escassez de amilase, poderá surgir diarreia.
Enzimas pancreáticas: que sintomas surgem, quando são insuficientes?
Na ausência de enzimas pancreáticos necessários à digestão, poderão surgir vários sintomas, como:
– indigestão
– cólicas após as refeições
– flatulência
– fezes que permanecem à superfície da água ou fezes gordurosas
– fezes claras (amarelas ou laranja)
– fezes frequentes
– fezes soltas
– perda de peso
Cerca de 25% dos doentes submetidos ao procedimento de Whipple terão malabsorção e irão precisar de ser suplementados com enzimas para toda a vida, principalmente aqueles submetidos também a radioterapia. Outros doentes poderão precisar de enzimas por alguns meses ou anos, após a cirurgia.
Normalmente, a absorção de gordura não volta ao normal, mesmo com a toma de enzimas. Neste caso, o objetivo da intervenção nutricional será eliminar a diarreia, adequar a alimentação às necessidades nutricionais e prevenir a perda de peso. Assim, a suplementação com triglicéridos de cadeia média pode auxiliar no controlo da perda de peso, pois fornecem calorias e ultrapassam a questão da absorção da gordura, já que são rapidamente absorvidos.
O nutricionista que acompanha o doente poderá, ainda, recorrer a suplementos nutricionais orais, com o objetivo de promover o aumento de peso, aumentar a força e, por conseguinte, a capacidade física e melhorar a qualidade de vida.
Em doentes com cancro do pâncreas inoperável, a prevenção da perda de peso e a melhoria dos sintomas pode ser prevenida com uma combinação de enzimas pancreáticas, intervenção nutricional apoiada pela consulta de Nutrição Oncológica e drenagem do ducto biliar.
Enzimas pancreáticas: que dose tomar?
O tipo e a dose de enzima devem ser sempre recomendados consoante a situação clínica de cada doente, podendo ser alterados com o tempo. Assim, os sintomas apresentados deverão ser sempre discutidos com o médico e com o nutricionista.
Enzimas pancreáticas: recomendações para otimizar o efeito?
Para que se consigam os melhores resultados com a toma de enzimas pancreáticas, a Pancreatic Cancer Action Network aconselha o seguinte:
– tomar as enzimas em todas refeições que contenham alguma gordura (no caso da lipase)
– começar com a dose mais baixa e ajustar de acordo com o nível de falha pancreática
– tomar no início da refeição e, caso sejam múltiplas enzimas, optar por tomar algumas no início e as restantes ao longo da refeição (não no fim)
– engolir as cápsulas inteiras com um líquido
– se as cápsulas forem difíceis de deglutir, deve-se abrir a cápsula e colocar o seu conteúdo numa colher previamente cheia com um alimento macio que não precise ser mastigado e que possa ser deglutido imediatamente. Os alimentos recomendados são: compota de maçã, gelatina, puré de pêssego, banana ou batata doce. Não misturar o conteúdo das cápsulas com leite, leite creme, gelado ou outros laticínios (o elevado pH destes produtos pode inativar estas enzimas)
– respeitar o prazo de validade das enzimas
Enzimas pancreáticas: existem efeitos secundários?
A obstipação é o efeito secundário mais comum, embora raramente também possam surgir náuseas, cólicas abdominais ou diarreia.