Falar é uma necessidade, escutar é uma arte.
Johann Goethe
Está claro que escutar seja um factor comum a todas as terapias. Nós os psicólogos escutamos. Sem escuta não há terapia. Apesar da evidente afirmação, o que resulta curioso é que na nossa formação não existe nenhuma disciplina que seja dirigida a ensinar a escutar. Dá-se como adquirido que já o sabemos fazer. O que se ensina são teorias e protocolos, que em termos de actuação, até podem dificultar a escuta.
Para escutar é necessário silêncio. Num ambiente ruidoso ouvir o outro resulta numa tarefa impossível. Mas o ruído que nos impede de chegar às palavras do outro nem sempre é externo, é mais entorpecedor o interno. Quando o outro expõe o seu problema, nós buscamos nas nossas teorias onde encaixar as suas palavras, e pensamos qual é o seguinte passo do protocolo, o paciente segue falando e todas essas palavras se perdem entre os dois.
A meditação (elemento chave na maioria das terapias da terceira geração) busca o silêncio interior. A mente fala e deve-se simplesmente observar e deixar passar os pensamentos. Deve-se sentar e estar presente no aqui e no agora. Desta perspectiva, escutar seria como uma meditação, onde o foco de atenção, em vez do lugar da respiração, seriam as palavras do paciente e onde os pensamentos distratores sobre teorias ou técnicas deixaríamos passar em vez de ficarmos presos a elas. Só estar presente. Como dizia em 1948 Theodor Reik, discípulo de Freud: para escutar, primeiro é necessário ter aprendido a escutarmos a nós mesmos e depois, poder prestar atenção.
Escutar o paciente sem privilegiar nenhum elemento do seu discurso e deixando actuar no nosso próprio processo inconsciente. Ao escutarmos através das nossas teorias já estamos a atender selectivamente os elementos do discurso. Para escutar é necessário ser paciente e não querer entender tudo demasiado rápido. O que significa ter de largar mão das nossas crenças psicológicas, que tanto nos protegem, e simplesmente escutarmos com a nossa presença.
[fonte]Referência: Reik, T. (1948). Listening with the Third Ear: The inner experience of a psychoanalyst. New York: Grove Press. / Fotografia: Mirandus Lucerna [/fonte]