Magnésio e progressão do cancro da mama

Os primeiros trabalhos acerca dos efeitos do magnésio no cancro, realizados em animais, revelaram que os ratos que apresentavam défice deste mineral desenvolviam tumores do timo. Por outro lado, ingestões mais elevadas de magnésio estavam correlacionadas com menor risco de cancro colo-retal e a deficiência em magnésio podia levar à formação e proliferação do cancro, bem como dificultar o tratamento. Além do referido, vários estudos têm mostrado que o magnésio tem um papel no aparecimento e na progressão do cancro da mama.Magnesio

As principais fontes alimentares deste mineral são os cereais integrais, os vegetais de folha verde, os legumes, as nozes, as amêndoas, as sementes e os tubérculos. Por outro lado, alguns nutrientes podem prejudicar a sua absorção, como as fibras dietéticas, os fitatos, os fosfatos e os oxalatos, bem como uma ingestão proteica inferior a 30 g/dia.

O magnésio participa em mais de 300 reações bioquímicas. É importante para uma adequada função muscular, neuronal e enzimática, ajudando, ainda, o organismo a usar a energia e a mobilizar outros eletrólitos através das células. Adicionalmente, este mineral funciona em paralelo com o cálcio na formação e no desenvolvimento ósseos. Baixos níveis de magnésio vão afetar negativamente a permeabilidade das células e este facto pode contribuir para a carcinogénese, conforme vários estudos têm sugerido.

O próprio tratamento oncológico pode levar a um decréscimo dos níveis de magnésio. A cisplatina, um fármaco usado em quimioterapia, está associada a vários efeitos secundários. Entre eles, está a redução dos níveis do magnésio no organismo, atingindo cerca de 90% dos doentes. A suplementação, como profiláxia, pode prevenir os efeitos secundários e reduzir a gravidade dos danos renais do fármaco, sem interferir no efeito anticancerígeno. De facto, doentes tratados com cisplatina e suplementados com magnésio evidenciaram uma redução significativa da progressão  da doença e uma maior sobrevivência.

Magnésio e cancro da mama

Em estadios precoces de cancro da mama, as concentrações de magnésio nas células estão reduzidas e correlacionam-se com taxas elevadas de carcinogénese e metástases, devido ao prejuízo da defesa antioxidante e ao aumento dos mediadores inflamatórios. Nesta fase, a deficiência em magnésio despoleta respostas inflamatórias que favorecem a angiogénese. Em paralelo, ocorre a produção da citocina pro-inflamatória interleucina 1, a qual estimula a expressão de moléculas de adesão que induzem alterações celulares.

Têm sido encontrados níveis plasmáticos reduzidos de magnésio na doentes de cancro da mama, embora existam variações nas concentrações do mineral em diferentes compartimentos celulares, de acordo com o estadio da doença.

Além de tudo o que já foi referido, vários fármacos usados em quimioterapia podem causar obstipação e o magnésio, devido aos efeitos laxantes, tem mostrado ser bastante eficaz no controlo deste sintoma: 200-1000 mg/dia, dividido em doses.

A estimativa de níveis séricos de magnésio tem um papel potencial na deteção e na monitorização de doentes com cancro da mama. Após o início dos tratamentos, o magnésio pode ser considerado como uma opção de suplementação com efeitos citotóxicos para algumas células (MCF-7) e reduzindo os efeitos secundários dos tratamentos. Infelizmente, o metabolismo deste mineral ainda não está totalmente compreendido, tal como o seu papel nos mecanismos envolvidos nas alterações na distribuição no organismo, especialmente em doentes diagnosticados com cancro. 

Referências: https://beatcancer.org/blog-posts/magnesium-deficiency-and-cancer; Mendes P eta al. Magnesium in Breast Cancer: What Is Its Influence on the Progression of This Disease? Biological Trace Element Research. 2017 https://doi.org/10.1007/s12011-017-1207-8; Blaszczyk U, Duda-Chodak A. Magnesium: its role in nutrition and carcinogenesis. Rocz Panstw Zakl Hig. 2013; 64(3):165–17; Severo JS et al. Aspectos Metabólicos e Nutricionais do Magnésio. Nutr Clín Diet Hosp. 2015; 35(2):67–74; Jahnen-Dechent W, Ketteler M. Magnesium basics. Clin Kidney J. 2015; 5(Suppl 1):i3–i14; Naithani M et al. Magnesium: the fifth electrolyte. J Med Nutr Nutraceut. 2014 3(2):66–72; Anastassopoulou J, Theophanides T. Magnesium-DNA interactions and the possible relation of magnesium to carcinogenesis. Irradiation and free radicals. Crit Rev Oncol Hematol. 2002; 42(1):79–91; Wolf FI et al. Magnesium and neoplasia: from carcinogenesis to tumor growth and progression or treatment. Arch Biochem Biophys. 2007; 458(1):24–32; Pavithra V et al. Serum levels of metal ions in female patients with breast cancer. J Clin Diagn Res. 2015; 9(1):25–27; Mirmalek SA et al. Comparison of in vitro cytotoxicity and apoptogenic activity of magnesium chloride and cisplatin as conventional chemotherapeutic agents in the MCF-7 cell line. Asian Pac J Cancer Prev. 2016; 17(S3):131–134. Fontes de imagens: https://vitalnutritionservices.com/magnesium-really-wonder-mineral/; https://www.huffingtonpost.com/entry/breast-cancer-screening-and-research_us_59ee01ffe4b02c6e3c609cb3

 

Dina Raquel João é Nutricionista e Mestre em Nutrição Clínica, membro efetivo da Ordem dos Nutricionistas (nº 0204N), com o Título de Especialista para a área de Terapia a Reabilitação da Classificação Nacional de Áreas de Educação e Formação, subárea da Nutrição, tendo desenvolvido a sua atividade profissional principalmente na prática clínica, na docência e formação e na investigação. Como Nutricionista, iniciou atividade clínica em 2001, tendo exercido a nível hospitalar, em centro de saúde e em clínica privada. A experiência profissional na área da investigação decorreu, essencialmente, na área oncológica, tendo sido premiada nesse campo (1º Prémio de Nutrição Clínica da Fresenius Kabi, em 2002). Conta com diversas comunicações científicas orais e em painel, tanto em eventos nacionais como internacionais. Atualmente, é Professora Adjunta Convidada na Universidade do Algarve – Escola Superior de Saúde, lecionando à licenciatura em Dietética e Nutrição.