Carcinoma hepatocelular: terapias de hoje e de amanhã

O carcinoma hepatocelular representa cerca de 70 a 90% dos tumores com origem primária no fígado. Este tumor é responsável por uma elevada taxa de mortalidade em todo o mundo. Tal facto deve-se à assintomatologia da doença em estadio inicial. Por outro lado, em estadio avançado, é um tumor extremamente difícil de tratar uma vez que ainda não existem opções terapêuticas satisfatórias.

O carcinoma hepatocelular possui opções terapêuticas muito limitadas

Quando o carcinoma hepatocelular é diagnosticado numa fase inicial da doença, o transplante hepático e a resseção cirúrgica por hepatectomia parcial são as opções potencialmente curativas disponíveis. No entanto, este tipo de cancro é normalmente detetado numa fase em que estas opções terapêuticas já não podem ser utilizadas, muitas vezes por existir metastização à distância e/ou invasão macrovascular. Neste caso, e na ausência de terapias eficazes, a radioterapia e a quimioterapia são vulgarmente utilizadas como tratamento paliativo em doentes não elegíveis para tratamento local, tendo como objetivo aliviar os sintomas associados à normal progressão da doença e assim melhorar a qualidade de vida do doente. A doxorrubicina, a cisplatina e/ou o 5-fluouracilo são alguns dos agentes vulgarmente utilizados, com resultados dececionantes, no tratamento do carcinoma hepatocelular.

A radioterapia e a quimioterapia não são particularmente eficazes no tratamento do carcinoma hepatocelular devido ao perfil quimoresistente e radioresistente das células deste tipo de tumor. Por outro lado, cerca de 80% dos casos são diagnosticados em fígados cirróticos e por isso altamente sensíveis, fator que promove também a elevada insensibilidade do tumor à terapêutica.

O sorafenib como promessa no tratamento do carcinoma hepatocelular

Na última década surgiu um fármaco que tem provado ser bastante útil no tratamento do carcinoma hepatocelular em estadio avançado: o sorafenib. Apesar das vias de atuação e os alvos celulares e moleculares deste fármaco não serem ainda totalmente conhecidos, o sorafenib tem demonstrado resultados bastante eficazes num grande número de doentes. Infelizmente, e apesar do sorafenib ser geralmente bem tolerado, alguns doentes experienciaram alguns efeitos adversos, como eritrodisestesia palmo-plantar, fadiga, diarreia e perda de peso.

Vale a pena referir também que, para além do sorafenib e da sua ação no carcinoma hepatocelular continuar a ser amplamente estudada, existem outras moléculas sob intensa investigação. Englobam-se nestas o sirolimus e os seus análogos, como o temsirolimus e o everolimus, o erlotinib, o gefitinib, o cetuximab, o lapatinib, o vandetanib, o bevacizumab e o linifanib. Alguns grupos de investigação têm também tentado testar a aplicabilidade de compostos hormonais, como o tamoxifeno, e da imunoterapia no carcinoma hepatocelular.

Referências: Bruix J, Sherman M. Management of hepatocellular carcinoma. Hepatology 2005; 42(5): 1208–1236.; Bruix J, Sherman M. Management of hepatocellular carcinoma: An update. Hepatology 2011; 53(3): 1020–1022.; Llovet J, Ricci S, Mazzaferro V, Hilgard P, Gane E, Blanc J-F, et al. Sorafenib in advanced hepatocellular carcinoma. N Engl J Med. 2008; 359(4): 378–390.;Llovet JM, Bruix J. Molecular targeted therapies in hepatocellular carcinoma. Hepatology 2008; 48(4): 1312–1327.; Gomes MA, Priolli DG, Tralhão JG, Botelho MF. Carcinoma hepatocelular: epidemiologia, biologia, diagnóstico e terapias . Revista da Associação Médica Brasileira Scielo 2013: 59: 514–524.

Ana Catarina Mamede, natural de Peniche, é Doutorada em Biomedicina pela Universidade da Beira Interior. É membro da equipa de investigação da Unidade de Biofísica e do Centro de Investigação em Meio Ambiente, Genética e Oncobiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Autora de vários artigos científicos, livros e apresentações. Os seus atuais interesses de investigação são no domínio da comunicação de ciência, particularmente na área da saúde. Fundadora e CEO da Research Trial (www.research-trial.com), uma agência de Comunicação de Ciência. Usa o novo acordo ortográfico. Ana Catarina Mamede, from Peniche, completed the PhD in Biomedicine at the University of Beira Interior. She is member of the research team of the Biophysics Unit and the Center of Investigation in Environment, Genetics and Oncobiology of the Faculty of Medicine of the University of Coimbra. Author of several scientific articles, books and presentations. Her current research interests are in the field of science communication, particularly in health. Founder and CEO of Research Trial (www.research-trial.com), a Science Communication agency.