Com o desenvolvimento da sociedade industrial e a ampliação do tempo de atividade, os seres humanos passaram a andar, em geral, descoordenados do seu relógio biológico. E então temos atualmente uma sociedade ensonada e cansada na maior parte dos dias. Viajamos de noite, divertimo-nos de noite, dormimos de dia, trocamos as horas de comer e sofremos de “jet-lag” (que significa uma descompensação horária originando uma extrema fadiga decorrente de alterações no ritmo circadiano). Com isto estamos, muitas vezes, a submeter o nosso organismo a um stress tal que pode fazer perigar a nossa vida.
Como já vimos, cada sistema do nosso organismo tem o seu ritmo biológico. Num organismo saudável o conjunto de ritmos estão coordenados, o que permite que o corpo responda com eficácia a todas as variações ambientais. Uma boa noite de sono é reparadora e permite um dia em que o desempenho é mais elevado do que num dia em que dormimos pouco. Mesmo dormindo de dia a recuperação nunca é total porque o sono diurno é diferente do sono noturno.
Os efeitos cognitivos do ritmo biológico são também notáveis. Por exemplo, a eficácia da concentração e da memória não dependem apenas da motivação e do empenho mas também das horas do dia. É depois das 10 da manhã que a aprendizagem é mais fácil. À tarde funciona melhor a memória de longo prazo. Em alguns sujeitos é por volta das 20 horas que o estudar é mais produtivo.
De facto, a concentração aumenta lentamente ao longo do dia e diminui depois das 21 horas atingindo o seu ponto mais baixo entre as 3 e as 5 horas da manhã – precisamente o período em que, comparativamente ao que se passa de dia, há maior probabilidade de acidentes rodoviários.
Também sabemos que a concentração no sangue de várias hormonas como o cortisol, a testosterona, a adrenalina e a noradrenalina é menor precisamente nos picos de fadiga.
Por sua vez, a ingestão de tranquilizantes ou de estimulantes conforme a hora do dia vai também alterar o ritmo biológico do cérebro e os efeitos dos químicos ingeridos. Há situações em que ficamos próximos da toxidade máxima correndo perigo de vida sem darmos conta. Será necessária uma educação médica sobre a matéria para que se consiga obter a melhor conjugação entre a ingestão de alimentos e medicamentos e as horas de recetividade ideal do organismo.
A importância do equilíbrio biológico
Concluindo, a toda a hora o nosso metabolismo apresenta uma dinâmica de acordo com o relógio da vida. Não há ainda aparelhos que permitam dizer-nos com exatidão quais as horas do dia, do mês e do ano em que estamos mais aptos a lidar com os diferentes componentes da vida. Embora saibamos que o Inverno “mata” mais do que o Verão ou que o álcool de manhã é mais tóxico para o organismo do que de madrugada (embora de noite tenha um efeito mais perigoso no cérebro reduzindo a capacidade de reflexos) o resto é ainda uma grande incógnita tanto mais que cada pessoa tem caraterísticas individuais únicas.
A minha sugestão é que adotemos tanto quanto possível um estilo de vida que nos aproximem dos ritmos e dos ambientes naturais. Somos seres vivos e não máquinas. Estamos sujeitos às leis da vida e não às da morte mas frequentemente estamos mais perto da condenação à finitude do que da energia que nos fornece vitalidade. Neste capítulo, o autoconhecimento é de uma importância vital!