O tema da amamentação tem vindo a ser discutido nesta rubrica. Falámos na importância da amamentação a curto prazo, no que diz respeito à morbilidade e mortalidade da criança, no efeito protetor em relação a doenças respiratórias, intestinais, obesidade, entre outras.
Também a mãe beneficia do acto de amamentar, já que funciona como protector fisiológico de doenças como cancro de mama e ovário, regula os níveis hormonais e de gordura acumulada durante a gravidez e, pelo facto de ser um leite mais económico (gratuito) e mais higiénico, para além de criar uma melhor ligação emocional entre a mãe e o bebé.
Parece que as vantagens da amamentação são infindáveis.
Alguns estudos tinham já demonstrado uma relação consistente entre amamentação e inteligência, em crianças e adolescentes, e é neste contexto que os autores Cesar Victora, Bernardo Lessa Horta e colegas da Universidade Federal de Pelotas, no Brasil, quiseram perceber se a melhoria da capacidade cognitiva causada pela amamentação teria impacto no sucesso pessoal e profissional em idade adulta.
Num estudo prospectivo realizado em Pelotas, no Brasil, pretenderam avaliar se a duração da amamentação em bebé estava associada com o quociente de inteligência (QI), os anos de escolaridade e o sucesso profissional aos 30 anos de idade, num ambiente onde não existe forte modelação social da amamentação.
A informação acerca das práticas de amamentação foi recolhida em 1982, numa amostra de 5914 crianças, das quais 3493 foram novamente avaliadas aos 30 anos de idade.
Os resultados são surpreendentes. A duração total da amamentação foi positivamente relacionada com o QI, o grau de escolaridade e o ordenado mensal. Crianças que foram amamentadas até 12 ou mais meses, apresentavam em idade adulta um QI mais elevado em quase 4 pontos, mais anos de estudo e ordenados mensais superiores, quando comparados com crianças que foram amamentadas até 1 mês.
Conclui-se a partir deste estudo que, a amamentação está associada a um melhor desempenho em testes de inteligência 30 anos depois e que poderá ter repercussões muito positivas no que diz respeito ao desempenho intelectual e sucesso na vida profissional.
[fonte]Referências: Horta BL, Victora CG. Long-term eff ects of breastfeeding: a systematic review. Geneva: World Health Organization, 2013.; Victora C. G, Lessa Horta B., Loret de Mola C., et al. Association between breastfeeding and intelligence, educational attainment, and income at 30 years of age: a prospective birth cohort study from Brazil. Lancet Glob Health 2015; vol. 3: e199–205. [/fonte]