Passado um ano do “nascimento” da rubrica “Simplicidade e Bom Senso” é altura de balanço. É altura de parar, fazer uma retrospetiva e relembrar o objetivo que nos levou a decidir trilhar este caminho. Depois, então, perceber onde viemos dar e para onde queremos prosseguir.
Este é o trabalho interior que faço neste momento mas que, simultaneamente serviu de mote para refletir, de forma partilhada neste artigo, sobre a importância de todos nós, em momentos chave da nossa vida, fazermos este exercício mental de balanço das nossas experiências. É um exercício mais complexo do que simples mas é sem dúvida de bom senso fazê-lo.
A rubrica “Simplicidade e Bom Senso” nasceu, há um ano atrás, com o propósito de ajudar os leitores do “Stop Cancer Portugal” a refletirem a respeito dos seus estilos e filosofia de vida, para que possam definir atitudes e comportamentos no sentido da vivência de experiências de maior simplicidade, serenidade e satisfação. Assim, visando o objectivo último do próprio “Stop Cancer Portugal”: promover a adoção de um estilo de vida saudável.
Só os leitores poderão confirmar se tal propósito foi alcançado, contudo para mim esta caminhada já fez sentido pois deu-me maior consciência de que a promoção da saúde exige que pensemos em nós como um todo rico e complexo que tem que integrar as nossas múltiplas dimensões: física, mental, emocional e porque não espiritual ou existencial. Também, é importante relembrar que as mudanças no sentido da promoção da saúde, como qualquer mudança profunda e verdadeira, não ocorrem de forma definitiva e imediata a partir do momento em que as decidimos fazer o que não nos impede de ir continuando a tentar mudar o que sentimos que deve ser mudado, de forma gradual e consciente.
É fundamental cuidar da nossa alimentação, reservar tempo para o exercício físico, expormo-nos o menos possível a poluentes e a outros agentes que agridem o nosso organismo e mantermo-nos vigilantes em relação à nossa saúde mas também é fundamental dar ao nosso corpo o devido descanso, aprender a relaxar, conetarmo-nos com a natureza, estimular a nossa criatividade, reservar tempo para vivenciar a relação com quem mais amamos, exercer a nossa cidadania e, pelo caminho, ir parando e refletindo sobre todo este manancial de experiências que a vida, tão generosamente, nos vai proporcionando.
Tal como a lagarta que se encerra no seu casulo antes de sofrer a magnífica metamorfose que a fará nascer de novo na forma de uma bela borboleta, também nós necessitamos de ocasionalmente nos reservarmos um pouco em relação ao mundo exterior para fazermos uma reconstrução mental do nosso percurso de vida antes de criarmos as traves mestras que sustentarão o nosso futuro próximo. Nem sempre é uma tarefa simples pois nessa reconstrução há um reviver inevitável de experiências que nem sempre são de fácil “digestão” emocional mas o resultado final é sumarento na medida em que nos permite ir reconstruindo o sentido da nossa existência.
A vida vai ocasionalmente oferecendo esses momentos de paragem para balanço. Os aniversários, as mudanças com que nos vamos confrontando (voluntariamente ou não), tais como a chegada ou partida de alguém querido, as mudanças de casa, de trabalho, de País, as dificuldades monetárias ou de saúde. Alguns destes momentos são de elevada exigência e por isso não podemos fazer um balanço sozinhos. Por vezes, é necessário apoio de outrem mas todas estas situações são, simultaneamente um “convite” a parar e a refletir. E há que ouvir este apelo.
O balanço mental (ou porque não escrito e/ou partilhado com alguém em quem confiamos) do nosso percurso de vida é a oportunidade de tomar consciência de todas as aprendizagens e concretizações que capitalizámos até ao momento e também, a oportunidade de confirmar que cometemos alguns erros (inevitáveis para quem não se furta ás experiências que a vida proporciona) mas que vamos poder tentar não os cometer de novo. Este trabalho interior pode, por vezes, parecer a travessia do deserto mas chegamos sempre a um qualquer “oásis” onde poderemos beber a “água fresca” que metaforicamente designa a consciência de que a vida é acima de tudo uma grande escola e se nos predispusermos a aprender com ela seremos capazes de vivenciar uma verdadeira alquimia interior de onde poderemos renascer mais fortes e mais sábios.