“Cá dentro inquietação, inquietação… é só inquietação, inquietação…” Assim, se ouve no refrão desta canção de José Mário Branco e assim identificamos uma emoção que sendo natural poderá ser muito nefasta quando constatamos que se instala em nós de forma demasiado frequente e descontrolada ou quando assistimos a uma ausência quase total da mesma. Falamos da ansiedade ou do, tão famoso “stress” que nos afeta a todos em maior ou menor grau.
Comecemos por lembrar que há níveis de ansiedade que se podem considerar positivos. Esta emoção tão básica foi fundamental ao Homem enquanto garante da sua sobrevivência, pois é graças a ela que entramos num estado de alerta que permite antever situações que ameacem a nossa integridade física ou emocional. No entanto, quem não se recorda do despreocupado Mister Magoo que parecia estar sempre num planeta diferente enquanto se ia deparando com os mais variados perigos. Com este exemplo, é tentador pensar que a ausência total de ansiedade é benéfica, e que a sorte protege sempre os audazes, contudo falamos de um exemplo extremo. De uma caricatura. Na verdade é saudável do ponto de vista psicológico mantermos uma noção realista do que são verdadeiros perigos e em relação aos quais nos devemos de precaver sem contudo cair no extremo oposto, achando que a cada esquina espreitam demónios.
A ansiedade saudável é aquela que nos permite sermos capazes de interpretar a informação que chega até nós, permitindo-nos adotar comportamentos preventivos (por exemplo, em relação à prevenção do cancro, das doenças cardiovasculares, dos acidentes de viação, etc) sem que nos sintamos tão amedrontados que nos tornamos “fanáticos” da prevenção ou, por outro lado, que façamos uma negação total do perigo enfiando a cabeça na areia. Algures pelo meio, está o caminho do bom senso. No entanto, por vezes, não é fácil encontrar esse caminho.
Se nos sentimos tão cheios de energia que quase não conseguimos parar, dormimos pouco, não aguentamos espaços silenciosos, as pessoas e as atividades calmas irritam-nos, sentimo-nos sempre capazes de acrescentar mais tarefas à nossa já infindável lista e os outros nos consideram imparáveis, algo vai mal. Este comportamento, dito “maníaco” é uma excelente defesa em determinadas ocasiões da nossa vida e, de facto, algumas pessoas têm um biorritmo que se manifesta deste modo, mas se este é o seu estado permanente durante muito tempo, algum dia terá que parar, antes que algo exterior o pare.
Por outro lado se sentimos uma inquietação que nos impede de agir e que nos deixa petrificados perante as situações mais simples ou se investimos em tarefas meticulosas e obsessivas na crença de que controlamos tudo ao nosso redor, também se torna claro que atingimos níveis muito pouco saudáveis de stress.
Em muitos momentos das nossas vidas poderemos vivenciar o que acima se descreveu, durante um curto período de tempo e a resolução poderá ser simples e passar apenas por tomarmos medidas que nos levem a parar, refletir e relaxar. Todavia, se a situação se prolonga demasiado no tempo ou se acarreta demasiado sofrimento para o próprio ou para os que o rodeiam talvez importe levar a sério a hipótese de procurar uma ajuda profissional, nomeadamente, uma psicoterapia e/ou apoio médico ou psiquiátrico. Infelizmente, os recursos ao nível do serviço nacional de saúde não são os desejáveis mas ainda assim existem. Também existem inúmeras sociedades que formam psicoterapeutas e que proporcionam consultas com valores mais acessíveis do que o habitual. Sobretudo, há que considerar que a ansiedade é causa de múltiplas desordens físicas, algumas de gravidade considerável. Então, porque não refletir sobre esta questão, lembrando que “a mente sã mantém o corpo são”?