Papa ou puré de legumes? Há tempos dei por mim a discutir este assunto com colegas que já são pais: a introdução da papa como primeiro alimento é muito mais conveniente, não causa grande transtorno na preparação, é bastante mais prática… a sopa tem uma menor probabilidade de aceitação por parte do bebé, para além de que é mais morosa na preparação. Quando e como introduzir os legumes? Quais são os proibidos, os permitidos, os atrasados ou os alergénios?
Tendo em conta que não existe consenso para o primeiro alimento a introduzir, fui à procura das recomendações.
As necessidades nutricionais do bebé incluem: energia gasta para taxa de crescimento, energia gasta em actividades, necessidades metabólicas basais e interacção dos alimentos.
A introdução de alimentos que não o leite não deve ocorrer precocemente, ou seja, nunca antes dos 4 meses e preferencialmente perto dos 6 meses de idade.
A partir dos 6 meses de idade existe uma necessidade acrescida de nutrientes e energia, principalmente em proteínas, ferro, zinco, algumas vitaminas lipossolúveis (A e D) e em aminoácidos e ácidos gordos essenciais, e que o leite materno não consegue suprir. Inicia-se aqui diversificação alimentar.
Tradicionalmente, um dos primeiros alimentos a ser introduzido eram os cereais, sob a forma de farinha, isenta de glúten. As recomendações actuais vão no sentido da não introdução de glúten antes dos 4 nem após os 7 meses, devendo a introdução ser gradual e preferencialmente acompanhada pela manutenção do aleitamento materno, visando uma redução do risco de diabetes tipo 1, de doença celíaca e de alergia ao trigo.
Os cereais são fornecedores de hidratos de carbono (polissacarídeos amiláceos e não amiláceos) e ainda de proteína de origem vegetal (trigo), de ácidos gordos essenciais (trigo, milho), de minerais (fósforo: aveia, milho e cevada; magnésio e cálcio: trigo) e vitaminas (B1 e B6: arroz).
A ordem de introdução dos alimentos não é obrigatoriamente a mesma para todos os bebés. Tendo em conta que existe uma taxa crescente de excesso de peso na infância e que as farinhas têm maior valor energético, cada vez mais os nutricionistas e os pediatras recomendam um puré de legumes como primeiro alimento a ser introduzido, preferencialmente como refeição de almoço.
As recomendações contempladas na Acta Pediátrica Portuguesa incluem a batata, a cenoura, a abóbora, a cebola, o alho, o alho francês, a alface, a curgete, o brócolo e a couve branca, agrupados em 4 a 5.
O espinafre, o nabo, a nabiça, a beterraba e o aipo contêm elevado teor de nitrato bem como de fitato (ambos comprometem o metabolismo do ferro e por consequência reduzem o transporte de oxigénio no organismo), razão pela qual só deverão ser introduzidos a partir dos 12 meses de idade. Acrescento a nota que se deve introduzir um legume novo com um intervalo de 3 a 5 dias uma vez que, se ocorrer reação no bebé, possamos identificar o alimento potencialmente alergénico.
Os produtos hortícolas e os tubérculos têm baixo valor energético (40 – 80 cal/ 100g) mas são importantes fontes de macronutrientes (excepto gordura) e micronutrientes. Vejamos alguns exemplos: a batata é rica em vitamina B1; a abóbora é boa fonte de zinco, magnésio e potássio; a alface: cobre e ácido fólico; o agrião destaca-se pela riqueza em vitamina C, fósforo, cálcio e ferro.
Atendendo à completa ausência de gordura nestes alimentos e ao reconhecimento da sua importância na estruturação das membranas celulares e na maturação do sistema nervoso central, retina e sistema imunológico, devem ser adicionados 5 a 7,5 ml de azeite em cru a cada dose de puré ou caldo de legumes.
É importante lembrar que a introdução de novos alimentos que não o leite, para além de respeitar características maturativas, deve ter em conta características culturais e socioeconómicas. Não há regras rígidas nem verdades absolutas. Falaremos oportunamente da introdução de outros alimentos na dieta do bebé.
[fonte]Referências: Comissão de nutrição da SPP – Acta Pediátrica Portuguesa. Alimentação e nutrição do lactente. Revista de medicina da criança e do adolescente, Vol. 43, n.º 5 Setembro / Outubro 2012, Suplemento II.[/fonte]