Ficámos os dois em silêncio!

Rita Rosado é psicóloga e enviou-nos este texto, uma reflexão da sua experiência pessoal.

cancro

Há tantas realidades para as quais estamos profundamente adormecidos. O cancro é uma delas, pelo menos até bater à nossa porta. Este é um mecanismo de defesa perfeitamente compreensível. É a técnica da avestruz. Porque havemos de nos importar com algo que é angustiante e que, supostamente, está bem longe de nós? Comigo, era isto que se passava até há cerca de 13 anos atrás.

Tudo parecia correr na perfeição. Tinha acabado a minha licenciatura, esperava começar a trabalhar em breve, vir a ter a minha autonomia e ter os meus pais ali sempre presentes a aclamar os meus sucessos e a confortar as minhas dificuldades. O meu pai andava cansado. Era, com certeza, do trabalho. Foi necessário fazer uns exames de rotina, pedidos pela medicina do trabalho. Os resultados indicavam que algo não estava bem. Naquela tarde, esperámos ansiosos que ele chegasse da consulta com notícias. Recordo-me desse dia como se tivesse tirado uma fotografia que ficou impressa na minha memória para sempre. Eu perguntei ansiosa: Então pai, o que te disse o médico? Ele respondeu, com um olhar ansioso: Disse, que pode ser tudo. Até pode ser cancro!

Ficámos os dois em silêncio! Daí para a frente a jornada foi muito dura para todos nós, especialmente para o meu pai.

Passados 9 anos, nada, mas mesmo nada, me iria fazer acreditar que a história se iria repetir na minha casa. Desta vez com a minha mãe. De acordo com a teoria das probabilidades, qualquer um diria que seria altamente improvável a minha mãe ser vítima de um cancro, sem qualquer semelhança com o do meu pai, alguns anos depois.

Pois é, o improvável acontece! E a partir daí é impossível colocar a cabeça debaixo da terra. Nem que seja para conferir algum sentido a algo aparentemente sem sentido. É preciso acordar para esta realidade.

E a realidade é que o cancro afecta muito mais pessoas próximas de nós do que possamos imaginar e nós próprios somos potenciais doentes oncológicos. Obviamente, não faz sentido, vivermos aterrorizados. Isso não seria viver! Mas vale bem a pena perceber melhor esta doença e a multiplicidade de possíveis causas, porque se algumas não dependem directamente da nossa acção, há muitas que poderíamos evitar com facilidade.

Rita Rosado nasceu em 1974 no Barreiro apesar de viver actualmente numa aldeia do Concelho de Tomar com a sua família. Licenciou-se em Psicologia Clínica pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Lisboa em 1997, é membro efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses com a cédula profissional nº 007261 e concluiu o Mestrado em Ciências da Educação – Formação de Adultos em 2007, pela mesma Universidade. Fez formação em Psicoterapia durante 2 anos, na Sociedade Portuguesa de Psicologia Clínica e exerceu esta actividade entre 1998 e 2005. Actualmente trabalha na área de Orientação Profissional e concilia esta atividade com a formação amadora na área musical. O seu interesse pela problemática da prevenção do cancro aprofundou-se após a experiência que vivenciou enquanto familiar de doentes de cancro. A sua abordagem perante a prevenção dos estados de doença tem por base uma visão holística dos seres humanos enquanto seres com uma dimensão física, emocional e até espiritual ou existencial com necessidade de cuidados ao nível de todas estas facetas.     Rita Rosado was born in Barreiro in 1974 but now lives in a small village near the city of Tomar (Central Portugal). Rita studied Clinical Psychology at Psychology and Educational Sciences College at Lisbon University and got her degree on 1997. She also got a Master degree in Educational Sciences – Adults Education, at the same College, ended in 2007. Rita had 2 years training in Psychoterapy at Portuguese Clinical Psychology Society and worked as a Psychoterapist between 1998 and 2005. At the moment she works has a Career Counselling and spends also some time learning music. Rita´s interest in cancer prevention grows when she had to face this problem in her family. Her vision about health prevention is: “We should see human beings in their multiple dimensions, physical, emotional and spiritual or existential and realize the need to care for all these dimensions”.