Post convidado de Carla Alves dos Santos, Enfermeira no serviço de Oncologia do IPO Porto, Mestre em Saúde Pública.
O cancro do colo do útero é o segundo cancro mais frequente no sexo feminino, sendo a terceira causa de morte por cancro na mulher. Em 2002 foram estimados cerca de 493 000 novos casos e 274 000 mortes, ocorrendo, aproximadamente 80% em países em vias de desenvolvimento.
Em Portugal são apresentadas as mais altas taxas de incidência de cancro do colo do útero da Europa Ocidental com uma taxa de incidência de 14,8 por 100 000 mulheres e uma taxa de mortalidade de 4,9 por 100 000 mulheres em 2001, representando o quinto cancro mais frequente no sexo feminino.
O cancro do colo do útero é uma neoplasia maligna na qual as iniciativas de prevenção de saúde pública tiveram o maior sucesso. As alterações citológicas, bem como as fases iniciais de cancro do colo do útero são, geralmente, assintomáticas. Este facto, associado ao longo período de progressão das lesões pré-cancerosas, passíveis de tratamento eficaz, poderá levar, se detectadas precocemente, a uma redução da incidência e, em última análise, da mortalidade por cancro do colo do útero . Nos anos 90 estabeleceu-se uma relação causal entre a infecção persistente pelo Papiloma Vírus Humano (HPV) de alto risco e o cancro do colo do útero, tornando-se no 1º cancro que tem sempre como causa necessária, embora não suficiente, um agente infeccioso.
Este facto conduziu ao aparecimento recente de vacinas, dirigidas contra a infecção pelos HPV’s de alto risco 16 e 18, responsáveis por cerca de 70-75% dos carcinomas cervicais.
Desta forma, na prevenção do cancro do colo do útero podem ser utilizadas estratégias de prevenção primária, através da vacinação, que tem como objectivo impedir a transmissão do agente (HPV-16 e -18), indispensável ao desenvolvimento da doença, e estratégias de prevenção secundária, através de um teste de rastreio (citologia ou teste de HPV), com o intuito de detectar as lesões pré-invasivas e impedir o aparecimento de cancro.
As estratégias de prevenção primária (vacinação) devem, no entanto, coexistir sempre com as de prevenção secundária do cancro de colo do útero (programas de rastreio organizados), pois nenhuma das vacinas existentes confere protecção contra todos os tipos de HPV oncogénicos.