Post convidado de Miguel Oliveira, enfermeiro, sobre a integração no internamento.
Rosa atravessa pela primeira vez o enorme corredor. A medo e perdida prossegue seguindo as instruções. Os pés avançam automaticamente, pois a mente cristalizou e ficou retida naquele instante, naquela palavra… Aquela confirmação de algo que já sentia e que negava…
Lá ao fundo aproxima-se a entrada para um outro mundo, outras pessoas, ruídos, luzes e odores.
Um desconhecido que será cada vez mais familiar. Rosa não vem sozinha. A porta abre-se e alguém dirige-se a eles. Rosa força um sorriso nervoso e tenta ouvir o que é dito. Tenta… Sabe que falam mas as palavras são estranhas, parecem de outro idioma…
A Rosa pode muito bem representar qualquer um dos doentes oncológicos que são internados para realizar quimioterapia pela primeira vez.
A ansiedade, o receio do desconhecido, a negatividade que ronda a palavra cancro reflectem-se nos olhares, no suor das mãos, na voz trémula…
A falta de informação, as crenças e mitos, as experiências vividas e relatadas conduzem a um imaginário. Imaginário esse distorcido e por vezes desfasado da realidade.
No universo da saúde não existe “sempre” nem “nunca”. Apenas respostas humanas a um processo de doença, a um tratamento. Pode-se tentar prever, mas uma previsão não é uma certeza inabalável.