Adoptar um estilo de vida saúdavel

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Tempo de Espera

Adágio
“Tão curta a vida e tão comprido o tempo!…
Feliz quem não o sente.
Quem respira tão fundo
O ar do mundo,
Que vive em cada instante eternamente.”

Miguel Torga

Ao longo da nossa vida temos vários momentos de tempo de espera…

Desde a espera da chegada do autocarro, a espera que sirvam o almoço, a espera que um amigo chegue, a espera de um telefonema… enfim, várias esperas.

Na doença oncológica, os inacabáveis tempos de espera são tão numerosos que praticamente se entrelaçam uns nos outros durante anos, alimentando continuamente o sofrimento dos doentes e seus familiares: desde o momento que aparece o primeiro sintoma até à visita do médico; a espera que precede as diferentes provas diagnósticas; a espera dos resultados dos exames; a espera do diagnóstico; a espera do começo do tratamento; a espera da evolução do tratamento e efeitos do tratamento; a espera de novas provas diagnósticas; as visitas periódicas, etc. E assim vão passando os dias, as semanas, os meses e os anos.
O tempo dos relógios, objectivo, permite organizar a nossa sociedade e a nossa vida, mas o tempo verdadeiramente importante para cada um de nós é o tempo subjectivo.
Uma investigação sobre avaliação do sofrimento realizada por Ramon Bayés e publicada na revista The Lancet” com doentes em unidades de cuidados paliativos (295 doentes), descobriu que 81,2% dos doentes que diziam que o tempo (manhã, tarde, noite) tinha sido longo ou muito longo, sentiam-se mal, ou muito mal; e que 73,7% dos doentes que diziam que o tempo tinha passado depressa, ou muito depressa, se sentiam bem ou muito bem.

O tempo marcado no relógio do hospital é o mesmo para todos, mas a sua percepção difere de pessoa para pessoa. Para os doentes e seus familiares o tempo de doença é sempre tempo de espera. E quanto maior for a incerteza do tempo de espera e piores as expectativas, mais sofrimento os doentes experimentarão.

Para os profissionais de saúde, por sua vez, é tempo de trabalho, de atenção centrada em proporcionar bons diagnósticos e administrar os melhores tratamentos disponíveis. Quando alguém está absorvido por uma tarefa, o tempo vivido, diminui e até certo ponto, desaparece. Por isso, é fácil para os profissionais de saúde não tomarem consciência de que o mesmo relógio assinala horas diferentes; horas “curtas” para aqueles que não podem dar vazão a todo trabalho que têm por diante; e horas “longas” de sofrimento para os doentes que esperam. Na minha experiência como psicólogo alguns doentes e familiares relataram-me que para muitos profissionais de saúde, a doença é mais um caso clínico nas suas rotinas diárias, mas que para eles é um dos acontecimentos mais importantes das suas vidas.

Sermos conscientes do fenómeno da vivência do tempo diferencial pode ajudar-nos a compreender melhor os doentes e seus familiares: as suas impaciências, as suas tristezas, a sensação de impotência, a frustração, a fúria, assim como canalizar os esforços destinados a diminuir as incertezas.

Referência Bibliográfica: Bayes, R., Limonero, J., Barreto, P., & Comas, M. (1995). Assessing suffering. The Lancet, 346(8988), 1492.

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