Adoptar um estilo de vida saúdavel

Gostou? Partilhe

Dietas não convencionais e cancro: prós e contras

Dietas nao convencionais

Nas consultas de Nutrição Oncológica é frequente verificar-se que muitos doentes chegam à consulta com muitas dúvidas acerca da alimentação, ponderando ou já tendo posto em prática dietas não convencionais populares, como a alcalina, a paleolítica (Paleo), a cetogénica, a vegan e a macrobiótica, com o objetivo de diminuir o risco de mortalidade e prevenir recidivas.

Alguns aspetos destas estratégias alimentares vão de encontro com as recomendações cientificamente fundamentadas propostas por algumas organizações internacionais de referência na área do cancro. Essas orientações específicas para doentes oncológicos foram elaboradas essencialmente no sentido da redução do risco de mortalidade pela doença.

Dietas nao convencionais

Tomando-se como exemplos a American Cancer Society e o American Institute for Cancer Research/World Cancer Research Fund, as recomendações estão associadas a uma redução da mortalidade entre 20 a 30 %. Analisando-se as orientações no sentido da prevenção da doença, a redução da incidência está compreendida entre 17 a 50%.

Apesar do referido, a maioria dos doentes e dos sobreviventes opta por estratégias alimentares alternativas, como as referidas acima. Fundamentos pseudo-científicos acerca dos efeitos anti-cancerígenos destas estratégias alimentares, evidência limitada acerca da melhoria dos resultados contra o cancro, a possibilidade de carências nutricionais e a eliminação de grupos alimentares que a ciência refere como benéficos para a prevenção do cancro e para a saúde em geral constituem o lado negativo dessas opções.

Dietas não convencionais e a ciência

No caso da dieta alcalina, não só não existe qualquer evidência científica no sentido de melhores resultados e/ou qualidade de vida, como poderá haver risco de carência em vitaminas B12 e D, cálcio, zinco e ferro.

No que diz respeito à dieta Paleo, tem alguns pontos em comum com as recomendações das entidades científicas de referência na área, nomeadamente a ênfase à fruta, vegetais, frutos secos e sementes, com restrição dos hidratos de carbono refinados, as carnes processadas e o álcool.

Contudo, a eliminação de grupos alimentares com benefícios cientificamente comprovados na prevenção do cancro é um aspeto negativo a considerar. A elevada ingestão de gordura saturada e o baixo consumo de legumes e cereais contraria a ciência, consistindo numa combinação associada a um prejuízo da sobrevivência no cancro colo-retal.

Apesar de os estudos sobre a influência da dieta cetogénica em doentes oncológicos serem escassos e de pouco impacto, sugerem ser segura e sem impacto negativo na qualidade de vida. Além dos poucos estudos, outro aspeto negativo prende-se com o facto de serem difíceis de implementar sem um acompanhamento profissional. Assim, muitos doentes não atingem os níveis desejados de cetonas na urina. Além disso, outros aspetos negativos podem ser referidos: pode levar a um défice de micronutrientes, pode ser rica em gordura saturada, é pobre em fibra, pode incluir alimentos processados e pode excluir grupos alimentares, como fruta, legumes e muitos vegetais, os quais são importantes para a prevenção do cancro e para a redução da mortalidade pela doença.

As dietas vegan e macrobiótica vão de encontro com muitas das recomendações alimentares das sociedades científicas. No caso da primeira, apesar de haver risco de carência em cálcio e vitamina B12, um aconselhamento nutricional apropriado pode prevenir qualquer défice. Relativamente à dieta macrobiótica e apesar de os estudos sobre o impacto da mesma em doentes oncológicos serem praticamente inexistentes, salienta a importância de um peso saudável e a prática regular de atividade física. Estes aspetos muito importantes são também referidos pelas entidades de referência.

[fonte] Referências: Rock CL et al. Nutrition and physical activity guidelines for cancer survivors. CA Cancer J Clin. 2012;62:243-74; World Cancer Research Fund/American Institute of Cancer Research. Diet, Nutrition, Physical Activity and Cancer: A Global Perspective. Continuous Update Project Expert Report 2018: American Institute of Cancer Research; 2018; Balter K et al. The effect of dietary guidelines on cancer risk and mortality. Curr Opin Oncol. 2012;24:90-102; Thomson CA et al. Nutrition and physical activity cancer prevention guidelines, cancer risk, and mortality in the women’s health initiative. Cancer Prev Res (Phila). 2014;7:42-53; Vergnaud AC et al. Adherence to the World Cancer Research Fund/American Institute for Cancer Research guidelines and risk of death in Europe: results from the European Prospective Investigation into Nutrition and Cancer cohort study1,4. Am J Clin Nutr. 2013;97:1107-20; Wright ME et al. Estimated urine pH and bladder cancer risk in a cohort of male smokers (Finland). Cancer Causes Control. 2005;16:1117-23; Hamaguchi R et al. Effects of an alkaline diet on EGFR-TKI therapy in EGFR mutation-positive NSCLC. Anticancer Res. 2017;37:5141-5; Schwalfenberg GK. The alkaline diet: is there evidence that an alkaline pH diet benefits health? J Environ Public Health. 2012;2012:727630; Staffan L. Paleolithic diets as a model for prevention and treatment of western disease. American Journal of Human Biology. 2012;24:110-5; Henry AG et al. Microfossils in calculus demonstrate consumption of plants and cooked foods in Neanderthal diets (Shanidar III, Iraq; Spy I and II, Belgium). Proceedings of the National Academy of Sciences. 2011;108:486-91; Aune D et al. Dietary fibre, whole grains, and risk of colorectal cancer: systematic review and dose-response meta-analysis of prospective studies. BMJ. 2011;343; Kossoff EH et al. Optimal clinical management of children receiving the ketogenic diet: recommendations of the International Ketogenic Diet Study Group. Epilepsia. 2009;50:304-17; Allen BG et al. Ketogenic diets as an adjuvant cancer therapy: History and potential mechanism. Redox Biol. 2014;2:963-70; Zahra A et al. Consuming a ketogenic diet while receiving radiation and chemotherapy for locally advanced lung and pancreatic cancer: The University of Iowa experience of two phase I clinical trials. Radiation Research. 2017;187:743-54; Shukla SK et al. Metabolic reprogramming induced by ketone bodies diminishes pancreatic cancer cachexia. Cancer & Metabolism. 2014;2:18; Klement RJ. Beneficial effects of ketogenic diets for cancer patients: a realist review with focus on evidence and confirmation. Medical Oncology. 2017;34:132; Schmidt M et al. Effects of a ketogenic diet on the quality of life in 16 patients with advanced cancer: A pilot trial. Nutr Metab (Lond). 2011;8:54; Rieger J et al. ERGO: A pilot study of ketogenic diet in recurrent glioblastoma. International Journal of Oncology. 2014;44:1843-52; Dinu M et al. Vegetarian, vegan diets and multiple health outcomes: A systematic review with meta-analysis of observational studies. Crit Rev Food Sci Nutr. 2017;57:3640-9; Orlich MJ et al. Vegetarian dietary patterns and the risk of colorectal cancers. JAMA Intern Med. 2015;175:767-76. Melina V, Craig W, Levin S. Position of the Academy of Nutrition and Dietetics: Vegetarian Diets. J Acad Nutr Diet. 2016;116:1970-80. Fontes de imagens: https://pathways-care.org/good-nutrition-for-cancer-patients/; https://www.oncologynurseadvisor.com/home/departments/issues-in-cancer-survivorship/helping-patients-face-the-challenge-of-eating-healthy-during-cancer-treatment/  [/fonte]

Os tumores neuroendócrinos gastroenteropancreáticos podem ter impacto no estado nutricional dos doentes. É importante definir recomendações nutricionais.
Obesidade e aumento ponderal têm sido associados a um maior risco de recidiva,de desenvolvimento de metástases e de maior mortalidade por cancro da próstata
Para os doentes com cancro e seus cuidadores, a pandemia causada pela COVID-19 levanta questões relacionadas com a alimentação. Informe-se.
O que pode ser feito para melhorar e manter o estado nutricional dos doentes com cancro do pulmão? Existe algum alimento que ajude a tratar a doença?